Palestra abordou caminhos práticos para que o Brasil consiga conter a difusão de informações falsas, principalmente as “fake sciences”
O combate à desinformação só será possível com uma atuação integrada entre a sociedade civil, os Três Poderes e o comprometimento da ciência em difundir conhecimento e, principalmente, torná-lo cada vez mais acessível e participativo. Este é um resumo do diagnóstico apresentado pela professora Cláudia Linhares Sales, secretária-geral da SBPC, ao Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS) da Fiocruz.
Na palestra, realizada na última semana, Sales defendeu uma articulação de diferentes atores no combate à desinformação: “Nós estamos vendo a luta contra a desinformação de forma bastante articulada pela sociedade civil, mas ela não pode ser apenas um extrato da sociedade. Precisa ter o envolvimento do Poder Executivo, com ministérios e secretarias; do Judiciário, pela criminalização de quem desinforma deliberadamente; e do Poder Legislativo, que precisa debater regulação.”
A pesquisadora também citou dados do Fórum Mundial do Clima, divulgados em janeiro, que identificaram as duas principais ameaças mundiais: a mudança climática e a desinformação.
“A desinformação é uma emergência global séria que compromete o bem-estar social e as instituições”, complementou.
Para Sales, existe um mercado que se beneficia diariamente da desinformação e que deve ser combatido. “A desinformação se alimenta do sistema capitalista, porque há um interesse financeiro e político sempre por trás das informações falsas. Por exemplo, quem viu o faturamento da indústria farmacêutica durante a pandemia de covid-19? Faturaram bastante com a desinformação de medicamentos ineficazes ao coronavírus, como a cloroquina”.
A secretária-geral da SBPC também citou informações apresentadas pelo vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Glaucius Oliva, durante a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, realizada em Brasília. Segundo o pesquisador, as publicações sobre ciência falsa (fake science) cresceram 49.000% desde 2010. “Tem que ser feito um trabalho para além da identificação das fake sciences, mas que foque em seu combate”, ponderou.
Um dos caminhos apresentados por Sales para conter este cenário de desinformação é o estímulo à ciência e a quem produz informações embasadas cientificamente, o que envolve desde a aplicação de recursos públicos a ações para tornar o conhecimento científico mais acessível e includente.
“As palavras ‘Democracia’, ‘Soberania’ e ‘Ciência’ estão o tempo nos debates das pessoas que trabalham contra a desinformação, seja o pessoal da área científica de informação e os profissionais da comunicação, como os jornalistas. A democracia, porque, sem ela, você não tem a certeza de que a informação recebida é verídica ou não, e sem democracia nós não temos base para discutirmos a desinformação. Já a soberania é a estrutura para a independência das pautas da informação, como a soberania de dados, por exemplo. E a ciência é o nosso campo de atuação: fora da ciência nós, enquanto sociedade, não saberíamos como agir”, concluiu.
A palestra “Combate à desinformação e anticiência”, ministrada pela professora Cláudia Linhares Sales, está disponível na íntegra no canal do CDTS Fiocruz no YouTube.
Fonte: Jornal da Ciência