Na ‘Science’, pesquisadores da UFSC ressaltam proteção aos guardiões do conhecimento sobre biodiversidade

De acordo com o texto, as pesquisas acerca do tema devem reconhecer adequadamente os povos indígenas e as comunidades locais

Pesquisadores do projeto Useflora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) publicaram na última sexta-feira, 2 de agosto, uma carta na revista Science que ressalta a importância de salvaguardar os guardiões originais do conhecimento sobre biodiversidade. De acordo com o texto, as pesquisas acerca do tema devem reconhecer adequadamente os povos indígenas e as comunidades locais para evitar o mal-entendido e a apropriação dos sistemas de conhecimento pela ciência ocidental.

Os autores afirmam que esses sistemas de conhecimento indígenas e locais foram marginalizados e explorados por séculos. “Embora a ciência ocidental tenha começado recentemente a defender o papel central dos povos indígenas e das comunidades locais como guardiões do conhecimento da biodiversidade, as comunidades ainda lutam para obter o reconhecimento de seus direitos intelectuais e territoriais. Esses direitos incluem consentimento livre, prévio e informado para atividades que os afetam ou que usam seus conhecimentos e práticas, incluindo pesquisa científica; autoridade para negar atividades e pesquisas que afetam negativamente as culturas, territórios ou conhecimentos indígenas; e participação na construção de ferramentas, produtos e publicações acadêmicas com base no conhecimento de comunidades indígenas e locais”, traz a publicação.

Acesse a íntegra da carta publicada na Science (em inglês)

Segundo os pesquisadores, manter a integridade física e intelectual dos guardiões da biodiversidade e salvaguardar seus territórios é pré-requisito para manter esse conhecimento vivo. “(…) a governança de dados deve exigir a inclusão de informações sobre os detentores originais dos dados e envolvê-los efetivamente nas práticas científicas — desde o planejamento, execução e publicação — por meio de um processo de co-construção de conhecimentos. Caso contrário, esses grupos continuarão a ser desapropriados, e seus direitos de consentimento e repartição de benefícios continuarão a ser violados”.

Assinam a carta publicada na Science: Carolina Levis, Natalia Hanazaki, Sofia Zank, Nivaldo Peroni, Cristiane Gomes Julião, Marciano Toledo da Silva, Ana Luiza Arraes de Alencar Assis‡, Elaine Mitie Nakamura, Gustavo Soldati, Emmanuel Duarte Almada, Guillaume Odonne e Irene Teixidor-Toneu.

O projeto Useflora

O projeto Useflora consiste em um banco de dados que reúne e sintetiza informações sobre os usos, manejo e domesticação de plantas, vinculando essas informações aos grupos humanos detentores desse conhecimento. São dados já existentes em publicações acadêmicas ou ainda não publicados, organizados pelos integrantes do Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica (ECOHE) da UFSC e por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) desde 2014.

O objetivo geral do projeto é abrigar um banco de dados que seja usado como ferramenta de síntese de informações a respeito de plantas com potencial de uso, manejo e domesticação nas Américas. “Pretende ser um instrumento de proteção e reconhecimento dos conhecimentos tradicionais associados, de modo a fortalecer os detentores de conhecimentos tradicionais e a pesquisa científica, o desenvolvimento tecnológico e de inovação”.

Mais informações no site useflora.ufsc.br.

Fonte: Notícias da UFSC