Conferência “De que feminismos estamos falando? Gênero, patriarcado e despolitização” aconteceu nesta terça-feira, dia 30
Adriana Guzmán foi a responsável pela conferência “De que feminismos estamos falando? Gênero, patriarcado e despolitização”, realizada nesta terça-feira, dia 30, no auditório Garapuvu da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis. Na segunda noite do Seminário Internacional Fazendo Gênero 13, a ativista indígena Aymara, da Bolívia, convocou todas as pessoas presentes a refletirem e atuarem na construção de feminismos que contribuam para o fim da violência, do patriarcado e das estruturas coloniais. “Temos experiência. Temos resistido por mais de 500 anos e o fascismo não nos venceu”, anunciou na ocasião.
Durante a conferência, Adriana ressaltou a importância de feminismos que dialoguem com os povos e fujam à instrumentalização, não se limitem a ser apenas interlocutores do poder público. “O feminismo se faz do corpo, do território, não se faz do Estado”, afirmou. Ela ressaltou ainda a necessidade de romper com as lógicas individualistas mesmo com as democráticas que permitem que fascistas e racistas sejam eleitos. A ativista, que integra o movimento Feminismo Comunitário Antipatriarcal, na Bolívia, provocou a plateia para a reflexão a respeito de outros formatos políticos que fujam da binariedade, em que se vê apenas democracia e ditadura, colonial e descolonial, etc., como possíveis.
Para a conferencista, somente os povos podem promover essas transformações. Por isso, reforçou a relevância de construir feminismos de comunhão. “A convocação é por diminuir cada vez mais o poder do Estado, deixar de pensar nele e pensar mais na comunidade”, enfatizou. Adriana considerou que, muitas vezes, o Brasil e os feminismos do país ficam ilhados por não dialogar com o restante de Abya Yala (termo kuna que se refere ao território da América Latina). Para a intelectual, se há uma saída ao que se vive na atualidade, ela é coletiva.
Recuperar a universidade
Adriana Guzmán criticou como se constitui o pensamento na academia, enquanto questão de poder e privilégio. Para ela, a universidade é uma instituição que permanece em um monólogo difícil de entender para quem não ocupa suas cadeiras, em que as vozes ancestrais e familiares não podem ser incluídas. Segundo a feminista, é preciso recuperar a palavra universidade, para que ela faça parte da descolonização e não o contrário. “A academia nos vende a aspiração de ser lido e não a de contribuir com a comunidade. Precisamos reivindicar uma universidade militante”, enfatizou, reforçando como é comum que o conhecimento seja utilizado para a manutenção do cenário de colonização.
Conferências no Fazendo Gênero 13
A conferência de Adriana Guzmán foi a segunda de quatro programadas para o Seminário Internacional Fazendo Gênero 13, realizado entre os dias 29 de julho e 2 de agosto de 2024. Na segunda-feira, a nigeriana Amina Mama abriu a programação de conferências ao abordar os feminismos africanos, destacando a importância de todos os feminismos se voltarem para a defesa da população palestina atacada pelo governo de Israel.
Na quinta-feira, 1° de agosto, o auditório Garapuvu recebe a artista Joana D’Arc da Silva Cavalcante, a Mestra Joana, para falar sobre o Movimento Baque Mulher. Fechando a sequência de conferências, Débora Diniz encerra o evento na sexta-feira, 2. A professora irá abordar o tema “Esperança Feminista”, título de um de seus livros, publicado recentemente. Ambas serão realizadas a partir das 18h30.
::: A programação completa do Fazendo Gênero está disponível no site do evento
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Fonte: Notícias da UFSC