*Por Julian Borba
Em 7 de junho de 2024, o Jornalista Anderson Silva, do Grupo NSC, fez uma série de posts na rede X (antigo Twitter) sobre a situação da UFSC. Cito algumas passagens:
Sou um admirador da UFSC. Não me formei lá, mas gostaria. Fiz só cadeiras de Mestrado, tempo curto. Mesmo assim, admiro muito a universidade e os efeitos dela para SC. Porém, o fato é que a UFSC vive uma crise sem precedentes nos últimos anos. O momento atual é reflexo disso.
Este cenário rende um debate enorme. Mas, pra mim, a principal ação da UFSC deveria olhar para dentro e rever conceitos, formatos e ser mais pragmática para evoluir. Nem falo da greve atual em si, que já rende outra discussão (…)”
No dia 11 de junho, o também jornalista Renato Igor, do mesmo grupo de comunicação, publica o seguinte:
Esses bloqueios no acesso da @UFSC são um escândalo! Os “democratas” não defendem o direito de ir e vir do cidadão? O reitor precisa agir, deixar a passividade de lado e defender o direito
de quem quer trabalhar e estudar.
Peço ao leitor que verifique os comentários que são postados sobre a UFSC a partir dos referidos posts. Quem tiver um pouco mais de paciência, consulte também os comentários feitos a partir das publicações institucionais da UFSC nas mais diversas redes sociais.
No dia 8 de junho, ao fazer a feira semanal em meu bairro, o feirante, sabendo que sou Professor da Universidade, me fez a seguinte pergunta: “o que está acontecendo com a UFSC? Que triste essa situação!”. No mesmo dia, num encontro da escola de meus filhos, um servidor da Universidade com vários anos de serviços prestados à instituição comenta comigo: “Eu sou muito UFSC! Fui aluno do Aplicação, vivo na Universidade desde os anos 80 e acho muito triste o que está acontecendo. Dá vergonha quando alguém vem nos perguntar sobre a Universidade!”.
Muitos podem dizer que tudo isso é uma campanha de difamação contra a UFSC! Outros, que isso é uma continuidade da pregação bolsonarista contra a Ciência! Alguns, até mesmo irão buscar respostas em teorias da conspiração! Eu estou do lado dos que acreditam que os comentários acima possuem um grande lastro na realidade e que são expressão da profunda crise pela qual estamos passando.
Uma crise estrutural, que se relaciona sim, com os problemas orçamentários vivenciados pela instituição, mas é muito maior que isso: é uma crise de infraestrutura, uma crise de imagem, uma crise de gestão, uma crise na relação com a sociedade, uma crise pedagógica e uma crise moral!
Muitas dessas crises estavam escondidas, mas as fraturas foram expostas de forma escancarada no contexto da greve: uma estrutura física em frangalhos; a incapacidade de se comunicar com a sociedade a não ser pelo discurso egocêntrico de auto bajulação; a incapacidade de discutir alternativas curriculares e pedagógicas condizentes com as demandas do presente e do futuro; estruturas e processos de gestão completamente defasados. Por fim, um Reitor mais preocupado em satisfazer as demandas de suas bases eleitorais do que dar respostas aos desafios institucionais, se comportando mais como um dirigente sindical do que como sua autoridade máxima. Um comportamento que é completamente incompatível com o decoro do cargo. Um “Bolsonaro da esquerda” , conforme a feliz definição feita pelo Professor Heronides Moura (em que pese eu duvidar dos compromissos ideológicos do Reitor com a esquerda!).
Resignados, assistimos à degradação institucional, com grupos extremistas de docentes, TAEs e discentes ditando a agenda da Universidade e definindo a pauta da comunicação pública. Enquanto docentes, recebemos e-mails intimadores de Centros Acadêmicos, nos dizendo o que pode e o que não pode ser feito. Por outro lado, quem se atreve a andar pelo Campus percebe que muitos locais mais se assemelham a um cenário de guerra do que com aquilo que deveria ser o ambiente de uma das cinco maiores Universidades Federais do país. Quem ainda não fez esse exercício, eu peço que faça: saia caminhando do CFH, passe pelo CCE, EFI e vá até o CFM, de preferência a noite e tire suas próprias conclusões!
A crise é grave! Muito grave! A saída dela exige ação, especialmente daqueles comprometidos com a Universidade. Creio que é o momento de as lideranças acadêmicas e administrativas deixarem de lado eventuais diferenças ideológicas, e se unirem em defesa da UFSC, começando por uma pauta mínima de reconstrução institucional, para, posteriormente pensar estratégias para o futuro. Do contrário, morreremos, e de “morte morrida”!
*Julian Borba é professor do SCP/CFH da UFSC