Rir ou chorar? Não importa: melhor continuar cavando

*Por Antonio C. Mariani

No texto “Eleições na universidade”1 o professor Jacques Marcovitch (ex-reitor da USP) discute a suposição de que o voto direto é o critério de escolha mais democrático e legítimo para o caso da USP. Argumenta ele tratar-se de um equívoco, apresentando argumentos que mostram que “… o voto direto, ideal na representação política do Estado, é de todo inconveniente na escolha dos dirigentes de uma universidade.”. A conclusão notória é a de que “A pregação do voto direto na sucessão de um dirigente acadêmico não teve, e jamais terá, o caráter representativo que sempre alcançou nas decisões da sociedade civil.”.

Na UFSC, mais do que inconveniente, o atual processo de escolha de dirigentes mostra-se historicamente com um certo grau de nocividade, não faltando exemplos, no presente e no passado, que evidenciam tal assertiva. Ele também apresenta-se como uma espécie de dogma, digno de “inquisição” direcionada a quem sugere questioná-lo, fato que nos tolhe a possibilidade de sequer pensar alternativas, algo que deveria ser próprio de um ambiente acadêmico.

O atual processo de escolha de dirigentes nos divide, intra e entre categorias e grupos, em vez de nos aglutinar em torno da consecução dos objetivos definidos no Estatuto da Instituição e que são a base de sua existência. Ele também transforma o efêmero momento de escolha de dirigentes no ponto focal de discussão da instituição, desqualificando outros tempos efetivos de repensá-la, a exemplo do momento de escrita do PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional)2 e do PDTI (Plano Diretor de Tecnologia da Informação e Comunicação)3.

Surpreendentemente, com frequência a UFSC aparece bem colocada em listas de melhores universidades brasileiras, o que mostra que a área acadêmica permanece agindo, apesar dos pesares.
Importante, pois, lembrar da frase do prof. Mario Sergio Cortella4 que diz: “Quando estiver no fundo do poço, a primeira coisa a fazer para sair dele é parar de cavar”. Mas ao contrário do proposto, na UFSC parece que temos um ferramental sempre bem afiado e vontade para continuar “cavando”. Resta, portanto, perguntar onde estará o ponto de inflexão ou se ela sutilmente continuará caminhando na direção do sugerido no título da novela de Gabriel García Márquez: “Crônica de uma morte anunciada”.

*Antonio C. Mariani é professor do INE/CTC