*Por Edna Garcia Maciel
Nos últimos dias assistimos à ascensão do movimento docente na UFSC. Instigados pela problemática situação educacional professores se mobilizam. Em consonância com outros movimentos nacionais, discutem pautas sobre campanha salarial, plano de carreira, recomposição do orçamento das IFES, dentre outros, frente ao acelerado processo de precarização da educação superior pública.
Encastelada numa cobertura confortável de um prédio de alto padrão, mas fora da UFSC, a diretoria do sindicato, quem sabe, pode ter sido contaminada por esse distante conforto que a coloca longe do local de trabalho dos seus aflitos associados. Emblemático! Atacada por uma espécie de cegueira semelhante àquela descrita pelo magnifico escritor Saramago, diretores sindicais locais, à revelia de sua base, defendem uma agenda elaborada por iluminados de uma federação que lá, no planalto central, a negociam com vassalos do grande capital. Realizam acordos recheados de migalhas para os trabalhadores da educação. Com isso, chancelam o plano de austeridade fiscal imposto pelo ministro da fazenda. Os resultados do chamado ajuste fiscal, sabemos de cor: aprofundamento da exploração, da opressão, reajuste zero de salários de professores, supressão de direitos e conquistas sociais, sobretudo, diminuição de recursos já escassos para educação e a saúde.
Enquanto isso, aqui, no território da universidade, docentes que anseiam discutir graves problemas que os afetam e que também afetam a própria instituição em que trabalham, são contidos por um estatuto draconiano do sindicato. Nada de reuniões, de formação política, de preparação de quadros. Assembleias? Nem pensar! Maldita herança do passado! Nenhuma iniciativa que propicie autodeterminação e autogestão do trabalho, condições fundamentais no processo civilizatório em curso.
O Conselho de Representantes, reunido em março desse ano, determina que a diretoria da Apufsc faça uma assembleia no dia 27 de março a fim de discutir a greve docente que se alastra no país. A assembleia decide pela realização de um plebiscito sob responsabilidade do sindicato. Vence a opção contra movimentos de greve. Professores não desanimam. Tratam de arrancar outra assembleia. Nesta, em votação presencial, a assembleia decide por aderir à greve de muitas IFES. Contudo, por meio do voto eletrônico, essa decisão é revertida com pequena diferença de votos. Como se sabe, validar o voto eletrônico, significou naquele momento, invalidar a assembleia. Isso não é pouco. Sem assembleias presenciais soberanas matam-se as ricas discussões políticas que as antecedem. Contudo, cumpre-se à risca o estatuto castrador de ideias. Nesse campo de forças é gerado o estopim dos acontecimentos a seguir.
Manobras de toda sorte são empreendidas pela diretoria do sindicato a fim de desmobilizar e desmoralizar o movimento dos docentes. Novamente, professores precisam recorrer ao estatuto para realizar uma nova assembleia. Lamentável! Desta vez, professores utilizam a única forma possível de obter a realização de uma nova assembleia: um abaixo assinado para o presidente do sindicato solicitando a realização de uma assembleia. Nesta, a greve é aprovada por ampla maioria e, depois, por voto eletrônico, entre 3 e 5 de abril. Mais de 1.000 professores votam. Muitos deles se juntam ao grupo originário. Muitos se sindicalizam encorajados pela luta de seus colegas. O fato inquestionável é que o todo poderoso estatuto político sindical não é suficiente para conter o movimento de sua base. Nenhuma lei tem poder de suprimir a eterna contradição da vida humana.
Desde o dia 10 de maio, a universidade encontra-se em estado permanente de greve. O CLG está, por ora, constituído de cerca de 70 pessoas presentes nessa assembleia. É fundamental a participação de todos. Muitas Comissões de greve estão organizadas e precisam de colaboradores. Informes serão feitos pelo Comando Local de Greve.
*Edna Garcia Maciel é professora aposentada da UFSC e membro do Conselho de Representantes da Apufsc