*Por Lauro Mattei
Na tarde de quinta-feira, dia 21, a Administração Central da UFSC – em nota publicada na página eletrônica da instituição – informou que suspendeu as aulas no período noturno devido à impossibilidade de servir refeições no RU Trindade porque o mesmo foi fechado pelo comando de greve dos TAEs. Além disso, a referida nota recomendava que fosse flexibilizada a exigência da frequência nas aulas que foram ministradas nos períodos matutino e vespertino daquele dia.
Também foi divulgada eletronicamente pelo comando de greve dos TAEs uma nota relativa à assembleia geral de greve realizada no RU Trindade na mesma data. Tal documento informa que os trabalhadores do RU decidiram aderir à greve da categoria e elenca um conjunto de motivos (problemas) que podem ser sistematizados da forma que segue:
1) Estrutura física do RU: foi projetada para 5 mil refeições/dia e atualmente são servidas 10 mil refeições/dia. Comentário: o novo RU Trindade foi inaugurado em 03.11.2011 e já em 2012-2013 passaram a ser servidas entre 8 mil a 10 mil refeições/dia. Portanto, esse não é um problema novo, não se esquecendo que a partir de 2012 ocorreram dois fatos que alteraram as projeções iniciais: a ampliação expressiva da política de permanência e assistência estudantil (vide cadastro socioeconômico) e a evolução crescente do acesso à universidade por parte de segmentos sociais até então marginalizados, os quais possuem demandas permanentes.
2) Necessidade de equipamentos em bom estado, em quantidades suficientes e operando adequadamente. Comentário: essa é uma questão de planejamento de médio e longo prazo diante da vida útil de cada equipamento, das demandas específicas por cada equipamento e do sistema operacional dos mesmos desde quando foram implementados. Há de se perguntar: qual foi o planejamento feito nesta direção desde 2011, ano da inauguração do novo RU Trindade?
3) Sobrecarga das instalações hidrossanitárias e entupimento das tubulações de esgoto. Comentário: novamente, esse também não é um problema recente. A questão é: por que tais problemas não receberam atenção até hoje?
4) Revestimento do piso comprometido pela não realização de manutenções adequadas. Comentário: aqui fica claro o problema de gestão, conforme mencionarei mais adiante.
Além disso, o referido documento apresenta uma lista de reinvindicações: a)redimensionamento das redes de esgoto e elétrica; b)reparo dos telhados; c)manutenção do sistema de ar condicionado no refeitório, cozinha e almoxarifado; d)elaboração de um programa de manutenção preventivo.
É claro que devemos saudar equipes técnicas setoriais que se preocupam com a qualidade dos serviços prestados à comunidade universitária, especialmente em um setor tão sensível como é o caso do Restaurante Universitário. Todavia, devemos recordar alguns fatos:
1°) No dia 23.12.2022 a página eletrônica da universidade anunciou que o RU Trindade ficaria fechado para manutenção e reforma no período entre 24.12.2022 e 31.01.2023;
2°) No dia 09.01.2023 a página eletrônica da universidade reforçou a informação de que o RU Trindade permaneceria fechado durante todo o mês de janeiro de 2023 para manutenção e reforma;
3°) No dia 07.02.2023 a mesma página eletrônica da universidade anunciou novamente que o RU Trindade também permaneceria em reforma ao longo do mês de fevereiro de 2023.
Ou seja, o RU Trindade ficou fechado praticamente durante dois meses entre o final do ano de 2022 e os dois primeiros meses de 2023 exatamente para se fazer o que está sendo utilizado neste momento para se justificar a adesão à greve. Portanto, a questão a ser respondida pelos atuais gestores (diretora do RU, pró-reitora da Prae, vice-reitora e reitor) é: por que as reivindicações atuais não foram solucionadas nos dois meses recentes em que o RU ficou fechado para reforma?
Isto nos leva a acreditar que o documento em análise neste artigo é apenas um instrumento para se forçar a adesão de importantes setores operacionais dos TAEs a uma determinada paralisação, cujas ações (forçar o fechamento de um instrumento público) transcendem o bom senso político e descambam para a ilegalidade, com consequências para todos.
Finalmente, a atitude da atual gestão de suspender as aulas pode ser considerada uma decisão que seguiu pelo caminho menos espinhoso, porém com custos políticos imediatos. Afinal, para uma gestão que se autointula de acolhedora, especialmente dos segmentos mais vulneráveis, é extremamente contraditório mandar para casa exatamente aqueles acolhidos que estão com fome e que precisam se alimentar.
Escrevi esse documento diretamente do Rio de Janeiro onde me encontro para um curto período de Pós-Doutoramento. No dia de hoje estive em duas universidades federais e em ambas há sinais de greve dos TAEs, porém as atividades de ensino, pesquisa e extensão continuam sendo desenvolvidas, sem dispensas de aulas e também sem fechamento de equipamentos públicos, atitude ilegal e que acarreta prejuízos para todos.
*Lauro Mattei é professor titular do curso de graduação em Economia e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC. Ex-pró-reitor da Prae (2012-2014) e atual coordenador geral do Necat/UFSC.