*Por Aureo Moraes
Quando os diretores e a diretora de seis dos 15 Centros de Ensino da UFSC publicam um documento expondo graves problemas de infraestrutura e ausência de manutenção predial na UFSC, revelam um conjunto de sinais. O mais evidente é a consequência de anos de recursos escassos, da redução drástica de verbas de custeio – mas também de capital – e a ampliação de demandas, de diferentes naturezas, que acabam por compor um quadro desafiador para a administração de cada Unidade e da UFSC em geral. São escolhas entre o que é urgente e o que é mais urgente.
Quando estes Centros que, juntos, abrigam perto de 17 mil estudantes de graduação e pós-graduação (Boletim de Dados 2022 DGI/Seplan) bradam em alto e bom som que “Nada – a não ser a incompetência – explica por que não se implementou essa medida meses atrás, com muito mais calma e critério, quando havia tempo suficiente para atender as demandas dos centros e outras unidades da UFSC antes do início do semestre 2024/1”, demonstram que parecer haver, de fato, ações descoordenadas, excesso de zelo ou, pelo contrário, inação, de setores chave nas esferas de decisão da Reitoria e nos setores responsáveis pelas ações de manutenção. E este é um segundo sinal, também aparente.
O terceiro indicador que o texto aponta – ao meu ver menos explícito – é a “marcação” no território das relações políticas. Há, obviamente, dentre os Diretores que assinam a Carta, aqueles que atuam em campo oposto ao da atual Gestão da UFSC. Natural, portanto, que se valham das condições verdadeiramente precárias apontadas no texto para situar-se no espaço de oposição. Contudo, ainda que o exercício de nossas atividades comporte a crítica como elemento da dinâmica política, é de bom tom que não se permitam insinuações sem fundamento. E me refiro a uma frase contida na carta, que passa quase invisível, mas que exige esclarecimentos.
Está lá, no início do terceiro parágrafo: “A gestão anterior – encerrada em 2022 – simplesmente não conseguiu (ou talvez nem tenha tentado) fazer essa contratação”. Pois bem: a gestão anterior, do reitor Ubaldo Cesar Balthazar e da vice-reitora Cátia Carvalho Pinto, entregou em 6 de junho de 2022 aos professores Irineu e Joana um documento com 562 páginas em que estavam detalhadas as principais atribuições e os processos desenvolvidos no âmbito das sete pró-reitorias e dez secretarias que compunham, àquela altura a estrutura da UFSC. Além de oferecer subsídios completos à equipe que assumiria, em julho, a Administração Superior, o ato constituiu-se de elogiável gesto, inédito na gestão da universidade. Uma demonstração de respeito ao processo de alternância na administração e de transparência, permitindo que o novo reitor tivesse um retrato detalhado das condições em que recebia a UFSC.
Para manter-me apenas nos aspectos mais relevantes da “Carta Aberta” vou mencionar aqui somente o que o Relatório de Transição apresenta quanto aos processos ligados à então Secretaria de Obras, Manutenção e Ambientes (Seoma), à qual estava vinculado o Departamento de Manutenção Predial e Infraestrutura (DMPI). Ao longo de 55 páginas, estão registrados desde as equipes, subunidades, atribuições e processos digitais em curso. E ali, em vários quadros e tabelas, já era possível saber que, quanto à infraestrutura e ações de manutenção predial, a UFSC mantinha, pelos menos, 15 processos, todos cadastrados no SPA, referentes a contratos vigentes ou prontos para iniciar, por exemplo, quanto a serviços de manutenção de elevadores , de sistemas de climatização, manutenção preventiva e corretiva em sistemas de extintores e mangueiras, equipamentos em sistemas de prevenção e combate a incêndios , postos de trabalho de manutenção elétrica, hidráulica, GLP, sistemas de alarme; serviços contínuos de manutenção corretiva e preventiva nos sistemas elétricos de baixa tensão, sistemas hidrossanitários, sistemas de gás GLP e sistemas eletroeletrônicos de segurança para os Centros de Ensino e Unidades Administrativas. Também, abertura de licitação para possível contratação de empresa especializada na recuperação estrutural e impermeabilização nas edificações, incluindo o fornecimento de equipamentos, materiais e mão de obra qualificada para a plena execução do objeto. Há ainda Atas de Registro de Preço de licitação para execução de serviços de recuperação de calçadas, pavimentos, drenagem pluvial e serviços de adequação das ligações do sistema hidrossanitário das edificações, serviços de Recuperação e Tratamento de Trincas em Paredes de Alvenaria e Pintura, de manutenção nas janelas, portas e vidro temperado…
Imagino que, trazendo aqui tais informações, fica respondida a dúvida quanto àquilo que a gestão encerrada em julho de 2022 fez nesse aspecto.
E, se alguém que deveria ter lido o relatório não o fez, fico à disposição para mostrar a quem o queira.
*Aureo Moraes é professor do Departamento de Jornalismo da UFSC