País deve ter aumento de casos e mortes nos próximos dias, preveem membros da pasta; pico deve ocorrer até junho
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse nesta terça-feira (17) que nenhum sistema de saúde está 100% preparado para atendimentos em larga escala diante do avanço do novo coronavírus. O número de casos confirmados no país passou de 234 para 291. Já o número de casos em investigação passou de 2.064 para 8.819. A pasta atribui o avanço a uma mudança no sistema para inserção automática de dados em análise pelos estados.
“É uma doença que tem abalado sistemas de saúde do mundo inteiro. Não existe nenhum país do mundo com um sistema de saúde 100% preparado para ser em massa acionado para testes, diagnóstico, internação, isolamento e leitos em CTI”, afirma.
“Estamos vendo países de primeiro mundo tendo problemas graves em relação a colapso de sistemas de saúde. O Brasil tem sistema minimamente consolidado e estamos procurando aumentar a capacidade instalada.”
Nesta terça, o ministério confirmou a primeira morte relacionada ao novo coronavírus. Trata-se de um paciente de 62 anos atendido em São Paulo e que tinha histórico de diabetes e hipertensão.
Segundo Mandetta, o Brasil deve enfrentar o pico do novo coronavírus entre 60 e 90 dias. A estimativa é que os números de casos sejam elevados entre os meses de abril e junho e passem a atingir a estabilidade a partir de julho.
“Nós estamos imaginando que nós vamos trabalhar com números ascendentes, espirais em abril, maio, junho. Nós vamos passar aí 60 a 90 dias de muito estresse para que quando chegarmos ao fim de junho, julho, a gente imagina que entra no platô. Agosto, setembro a gente deve estar voltando desde que a gente construa a chamada imunidade de mais de 50% das pessoas”, afirmou.
O ministro disse ainda que medidas restritivas no país poderão ser elevadas neste período, mas não deu detalhes de quais.
Ainda de acordo com Mandetta, a pasta já analisa a possibilidade de usar estruturas não previstas na rede de saúde para atendimento, como escolas e contêineres.
“Vamos precisar de muitos mais, muitos leitos para pacientes que não são graves para CTI, e não são leves suficientes para casa. Isso pode exigir hospitais de campanha, improvisação de escolas e transformação de leitos que não são clássicos de hospitais”, disse.
Ele voltou a pedir que diretores de hospitais revisem a ocupação de leitos e suspendam cirurgias eletivas (programadas).
As ações fazem parte de um conjunto de medidas para garantir aumento de capacidade de atendimento na rede. Nos últimos dias, o ministério também passou a liberar leitos extras de UTI para serem repassados aos estados.
Também já avalia ampliar o uso de telemedicina —incluindo para atendimento direto a pacientes, e não apenas entre médicos como segunda opinião.
A estimativa da pasta é de que 15% dos pacientes precisarão de atendimento hospitalar, enquanto 85% poderão se recuperar em casa, com uso de antitérmico e orientação médica básica.
Para evitar conter a gravidade dos casos, Mandetta também fez um apelo para que haja proteção de idosos e que seja evitado o contato desse público com crianças.
“Ligar no telefone para perguntar como está, mas não levar as crianças sistematicamente. Muitas são assintomáticas. Conversar, dialogar e proteger. O momento é de proteção. Quantos menos idosos tivermos com essa gripe, menos pressão nos leitos de CTI”, disse.
Com a previsão de aumento de casos nas próximas semanas, o ministério irá abrir um edital para cadastramento de empresas que ofertam testes rápidos que podem ser usados na rede de saúde. A medida deve ser publicada em edição extra do Diário Oficial da União desta terça.
“Nós vamos chamar aqueles que querem colaborar, que mandam [ofertas] nos nossos emails, mandam para o Ministério da Saúde, todos terão prazo para falar: ‘eu tenho essa solução’, ‘eu tenho essa solução para isso’, mas mandar já com o seu componente científico para que o Ministério da Saúde veja se há viabilidade, se há intenção de aquisição de outras tecnologias”, disse o ministro.
Ele afirma que as tecnologias só serão adotadas pelo governo se houver atestado sobre eficácia.
Em outra frente, a pasta pretende adquirir mais 45 mil testes laboratoriais até abril. Atualmente, há 30 mil testes disponíveis.
Apesar da ampliação do número de testes, Mandetta diz que, com a confirmação de transmissão sustentada em algumas regiões, a recomendação da pasta é que seja priorizada a testagem de pacientes internados com quadro respiratório grave.
Nos demais, a análise deve ocorrer por meio de amostras coletadas em unidades sentinela na rede de saúde —visando verificar a circulação do vírus— e diagnóstico clínico.
“O médico viu, é um paciente jovem de 20 anos, o pai já teve e agora tem sintomas, e a gente por nexo causal notifica”, afirma. “Os nossos números deverão retratar de maneira muito fidedigna o que os profissionais da ponta vão observar na dinâmica dessa doença.”