A ação visa à sensibilização de alunos, servidores e demais membros da comunidade universitária com relação às atitudes que configuram o crime
“A UFSC não é lugar de assédio sexual. Queremos uma universidade segura e respeitosa para nós, mulheres”, destacou a assistente social Elisiane de Almeida Bastos no lançamento da campanha “UFSC contra o assédio sexual”, ocorrido em reunião com a equipe do Seminário Internacional Fazendo Gênero, na última sexta-feira, dia 18.
Iniciativa da Secretaria de Aperfeiçoamento Institucional (Seai), do gabinete da Reitoria e da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade (Proafe), a ação visa à sensibilização de alunos, servidores e demais membros da comunidade universitária com relação às atitudes que configuram assédio sexual, assim como a divulgação dos canais para acolhimento e para denúncias.
As frases incluídas em oito modelos de cartazes foram definidas a partir da experiência da equipe da Proafe nos atendimentos às vítimas de assédio, e ressaltam falas que são frequentemente consideradas pouco importantes ou “brincadeira”, mas que, na verdade, se caracterizam como assédio e possuem consequências graves na vida de muitas pessoas.
Elisiane trabalha na Coordenadoria de Diversidade Sexual e Enfrentamento da Violência de Gênero (CDGen), onde acolhe e assessora o recebimento de denúncias. A assistente social comentou que “há o reconhecimento desta problemática no mundo todo, ela também bate na nossa porta. Com a campanha, estamos sinalizando para as vítimas que não estão sozinhas, para os assediadores que isso é crime e para as instâncias oficiais de que deve haver uma perspectiva de gênero no atendimento”. Além das frases, um cartaz traz informações sobre o que fazer em casos de assédio sexual.
A primeira etapa da campanha iniciou com a distribuição de cartazes por toda a universidade, com o objetivo de ocupação dos espaços que servem como pontos de contato entre as pessoas da comunidade e onde, muitas vezes, ocorrem situações de assédio que ficam invisibilizadas – ao contrário do que ocorre em ambiente virtual onde é possível salvar prints de mensagens, por exemplo.
A ideia da campanha, explica Carolina Seidel, pedagoga da CDGen, “surgiu da necessidade de abordar e combater um problema sério que afeta toda comunidade acadêmica, tendo como objetivo a prevenção, a conscientização e o enfrentamento. O número de denúncias tem aumentado de forma significativa desde o retorno presencial. Assim, temos a intenção de propor algo educativo, informando a todos sobre o que constitui assédio sexual, como identificá-lo, como denunciá-lo e quais canais de acolhimento e suporte”.
Carolina informa que as informações dos casos atendidos são tratadas com máximo com respeito à privacidade das vítimas e confidencialidade. Carolina explica que “essa é uma premissa importante para que mais pessoas sintam-se seguras e confortáveis para denunciar. Temos realizado o acompanhamento institucional de pessoas que denunciam situações que variam desde comportamentos verbalmente inadequados até situações assediosas que envolvem abordagens e contatos físicos indesejados. Essas situações impactam a vida dos envolvidos de maneira intensa, afetando sua saúde mental, emocional e desempenho acadêmico”.
Desenvolvida pela Coordenadoria de Design e Programação Visual (CDPV) da Agência de Comunicação da UFSC (Agecom), a campanha teve como referência a “Isso tem que parar”, da Universidade de São Paulo (USP), e a “Não é não” da Universidade Federal de Goiás (UFG), além de ter como parâmetro o Guia Lilás da Controladoria-Geral da União. A identidade visual buscou fazer referência ao “Agosto lilás”, mês de conscientização pelo fim da violência contra as mulheres (instituído pela Lei 14.448/2022).
Os cartazes, com projeto gráfico de Vitoria Cidade, bolsista de design da CPDV, possuem fundos em tons de roxo e lilás, sobrepostos por textos em amarelo, de forma a gerar um alto contraste cromático a fim de atrair até mesmo os olhares mais desatentos. As faixas amarelas com a expressão “Isso é assédio, isso é crime” remetem às faixas policiais para delimitação de cenas de crime e evidenciam a gravidade das frases exibidas nos cartazes.
Para a responsável pela CPDV, Audrey Schmitz Schveitzer, “a primeira etapa da campanha visa à conscientização e, também, certo tensionamento, pois as peças dialogam com aqueles que consideram tais falas e atitudes algo sem importância, ao mesmo tempo em que empoderam, com argumentos juridicamente embasados, aqueles que sabem que tais ações são criminosas e inaceitáveis. Além disso, a fixação dos cartazes nos ambientes acadêmicos é uma maneira de evidenciar o comprometimento da administração central no combate ao assédio sexual na Universidade, servindo como um lembrete de que tais atitudes não serão normalizadas.”.
Concomitantemente, a campanha incluirá material para redes sociais e, posteriormente, serão produzidas peças multimídia e podcast, visando aprofundar o debate sobre o tema. Os cartazes foram impressos pela Imprensa Universitária e a distribuição será organizada pela CDGEN/Proafe em todos os campi da UFSC. Além disso, os arquivos em PDF serão disponibilizados na página do Sistema de Identidade Visual da UFSC e os cartazes podem ser também solicitados à Imprensa Universitária.
Fazendo Gênero 13
A equipe do Seminário Internacional Fazendo Gênero 13 fez uma reunião aberta com a gestão da UFSC no auditório da Reitoria para promover uma articulação interna com os espaços da instituição. Representante da coordenação geral, a professora do departamento de Filosofia da UFSC, Janyne Sattler, assinalou que “fazemos gênero o tempo todo, num estado que tem medo desta palavra. Vai ser um grande encontro de gêneros, pessoas e ideias. Há uma urgência já no título do seminário, ‘contra o fim do mundo: anti-colonialismo, anti-fascismo e justiça climática’: é uma realidade factualmente e politicamente complexa”.
Também representando a coordenação do evento, a professora do departamento de Antropologia da UFSC, Alinne de Lima Bonetti, lembrou do pioneirismo da UFSC nos estudos feministas, a partir de trabalhos com mais de três décadas, que culminaram na fundação do Instituto de Estudos de Gênero (IEG) da UFSC.
O reitor da UFS, Irineu Manoel de Souza cumprimentou a mobilização do Fazendo Gênero e salientou a UFSC ser referência na temática. Ele também reforçou a posição da gestão em ser um exemplo prático de equidade, com 50% do primeiro escalão da instituição sendo composto por mulheres. “Foi uma conquista importante, um compromisso firmado e colocado em prática. É uma demonstração de que é possível modificar o sistema, dessa cultura onde predomina o machismo. A universidade não pode ficar mais acostumada com estas práticas, deve ser progressista, no sentido de utilizar políticas nesta direção, da mesma maneira que lançamos uma campanha antirracista, firmamos uma política de ações afirmativas para a pós-graduação e outra em relação às pessoas trans”, finalizou o gestor.
Fonte: Notícias UFSC