Livro na Praça debate negritude na obra de Cruz e Sousa

Poeta catarinense é reconhecido como um dos principais nomes do simbolismo

A obra e a consciência da negritude na poesia de Cruz e Sousa foram tema da edição da última sexta-feira, dia 13, do projeto Livro na Praça, da Editora UFSC (EdUFSC). A professora aposentada da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Zilma Gesser Nunes, e o professor do departamento de Línguas Vernáculas, Jair Tadeu da Fonseca, conversaram sobre os feitos do autor catarinense. A edição também contou com apresentação teatral de J.B Souza e música pela dupla La Guitarra Encantada. O presidente da Apufsc-Sindical, José Guadalupe Fletes, e a secretária-geral, Viviane Heberle, compareceram ao evento.

Na noite dedicada a Cruz e Sousa, o diretor da EdUFSC, Waldir Rampinelli, lembrou que a função da editora “não é apenas fazer o livro, mas militar o livro”. Um papel político, cultural e social. Ele também pontua que com a obra “Negro – Cruz e Sousa”, organizada por Zilma Nunes, é possível ver que, mesmo com escritos do século passado, o autor fala dos tempos atuais.

Rampinelli ressaltou que Cruz e Sousa não deixou uma obra grande em quantidade, mas em qualidade. Apesar do feito, teve que lidar com a miséria, doenças e descaso. “Morreu em Minas Gerais, tentando se curar de uma tuberculose. Voltou morto para o Rio de Janeiro num vagão que transportava animais. Assim foi tratado Cruz e Sousa. Hoje empresta o nome ao palácio do governo.” Para o diretor, a palavra em espanhol ningunear, que significa não valorizar o que é nosso, resume isso muito bem. “Infelizmente nós não reconhecemos o valor dos nossos. Só depois que eles brilham lá fora é que brilham aqui”, completou.

Professora aposentada da UFSC, Zilma Gesser Nunes, e o professor do departamento de Línguas Vernáculas, Jair Tadeu da Fonseca, conversaram sobre os feitos do autor catarinense (Foto: Filipe Melo/Apufsc)

Especialista em teoria literária, Jair Fonseca afirmou que cada época tem a possibilidade de identificar ou não algo recursivo em algum tipo de obra. De acordo com ele, Cruz e Sousa teve um reconhecimento importante em vida, embora a validação maior tenha vindo mais tarde. “Mesmo com as críticas, Cruz e Sousa conseguiu se sair como o melhor de sua época, como poeta do simbolismo”, destacou Fonseca.

O professor lembra que, ao passar dos anos, diversos estudiosos realizaram leituras críticas da obra de Cruz e Sousa e que, ao contrário do que alguns colocaram, o trabalho dele não se tornou ilegível, mesmo com a mudança de época. Ele ainda acrescentou que, por meio de novas tendência de estudos literários, o poeta catarinense começou a ser lido também como parte dos estudos culturais.

As questões debatidas por Fonseca e Nunes podem ser percebida em “Negro – Cruz e Sousa”, editado pela EdUFSC em 2019, que reúne pela primeira vez a obra completa de Cruz e Sousa com poesias, textos jornalísticos, cartas e conteúdos inéditos. Interessada pelo autor desde a graduação, Nunes contou que a proposta do livro é ser fonte de pesquisa, além de trazer a versão do negro na obra de Cruz e Sousa. “Eu digo que é uma visão não usual sobre Cruz e Sousa. Porque a visão que nós estamos acostumados da obra dele é esse poeta simbolista, grandioso e glamuroso, com muita razão. Mas com essa outra parte da obra [o negro], não estamos acostumados à leitura.”

Programação do Livro na Praça

Maio
26/5: Professores Raphael Grazziano e Lino Peres – A arquitetura e a cidade

Junho
16/6: Jornalistas Elaine Tavares e Miriam Santini de Abreu – Jornalismo independente e a crítica do cotidiano
23/6: Professor Waldomiro da Silva Códices – Os primeiros livros da história da América Latina, de Miguel León-Portilla
30/6: Professores Paulo Capela e Edgard Matiello – Esporte e lazer na cultura dos trabalhadores

Karol Bernardi
Imprensa Apufsc