*Por Raul Valentim da Silva
A ciência atual aceita a teoria do Big Bang que atribui o início do tempo e do espaço a uma singularidade onde um ponto mágico concentrou a energia suficiente para formar todo o universo. Na minha leiga percepção lógica, múltiplas singularidades podem ser vinculadas a este evento. A viabilização material que se seguiu decorreu do surgimento simultâneo, com o Big Bang, da física que veio devidamente acompanhada da matemática com sua respectiva lógica. As duas podem ser consideradas irmãs siamesas inseparáveis.
A mecânica quântica, com sua matemática probabilística, teve de ser gerada, assim como as interações fundamentais forte e fraca que são indispensáveis no microcosmo material. As 16 partículas subatômicas também foram criadas, incluindo o bóson de Riggs. O desaparecimento da antimatéria, que teoricamente deve ter sido gerada, e a constatada aceleração da expansão do universo, superando a velocidade da luz, são enigmas que podem ser considerados como outras singularidades primordiais.
A gravidade é outra interação fundamental que também pode ser incluída como uma singularidade, entendida como algo que é absolutamente original e cuja origem é desconhecida. Graças a esta interação temos as estrelas e com elas vieram os elementos químicos, propiciando o aparecimento da própria química. A gravidade mantém a Terra unida ao Sol, possibilitando a existência da vida. Ela, junto com a física, conseguiu trazer para nosso planeta todos os elementos químicos indispensáveis para sobrevivência dos seres vivos.
O eletromagnetismo, a quarta interação fundamental, também dotado de amplas vinculações com a matemática, igualmente pode ser considerado uma singularidade altamente significativa para a existência e preservação da vida na Terra. A formação de átomos e moléculas, assim como dos impulsos nervosos, está essencialmente vinculada com este bendito eletromagnetismo. Impulsos elétricos propiciam todos os movimentos voluntários e involuntários que são observados nos animais.
Logo após o Big Bang o hidrogênio passou a ser formado. A quantidade formada foi suficiente para produzir todas as estrelas e galáxias que coexistem no Universo. Esta imensa produção de matéria também pode ser enquadrada como uma outra importante singularidade. Sob a ação da gravidade, os átomos de hidrogênio das estrelas transformam-se em hélio. As altas temperaturas geradas neste processo de fusão propiciam a formação, dos átomos de carbono, essenciais para a viabilização da vida na Terra. A energia luminosa gerada no Sol que chega até a Terra é também essencial para os seres vivos.
Outros elementos químicos, também indispensáveis para os seres vivos, foram criados nos processos de transformação das estrelas, sendo trazidos para a Terra pela ação da gravidade e devidamente espalhados pelos eventos tectônicos que ocorreram em nosso planeta. As propriedades de interações do carbono com elementos como o oxigênio permitiram a geração de substâncias que sustentam a vida e sua reprodução. A química que nasceu nestes processos, indissoluvelmente ligada com a física e com a matemática, pode igualmente ser considerada uma outra singularidade.
O aparecimento da vida na Terra e da própria biologia, vinculada com a química e com a física, certamente podem ser enquadrados como uma nova singularidade. Podem ser agregadas a ela múltiplas ocorrências que também são altamente singulares, como o surgimento de células, genes, mitocôndrias, cloroplastos e clorofila. A fotossíntese propicia a absorção de fótons de energia provenientes do Sol e de moléculas de CO2 para, junto com a água, gerar açucares que contêm energia química necessária para a preservação da vida dos animais.
A diversificação da vida na Terra utilizando informações codificadas em genes devidamente localizados em moléculas de DNA pode ser considerada uma autêntica singularidade. No genoma estão informações que permitem que o organismo saiba, durante toda a vida, o que deve ser feito, como e quando fazer. Os genes sabem como confeccionar os tecidos, órgãos e sistemas que permitem a continuidade da vida e sua reprodução dentro de cada espécie que foi singularmente gerada.
Os processos de reprodução sexual, que na maioria dos casos envolvem dois seres diferentes em cada espécie, mostram evidências de outra desafiadora singularidade biológica. São observados em algas, fungos, plantas e animais, envolvendo múltiplas formas de polinização e de acasalamentos. Estima-se que existam 8,7 milhões de espécies de animais na atualidade. A origem da diversidade de comportamentos e das formas peculiares de reprodução mostra-se bastante enigmática. A reprodução do mosquito da dengue é um bom exemplo desta evidente singularidade.
Tais singularidades podem ser consideradas evidências lógicas da possível e até mesmo provável intervenção de uma entidade promotora e organizadora do Universo e da vida, que a ciência do século XXI nos permitem visualizar melhor. Creio que uma ciência mais agnóstica e menos ateia poderia contribuir significativamente para reduzir conflitos humanos que ocorrem dentro e fora das nossas escolas.
*Raul Valentim da Silva é professor aposentado da UFSC