*Por William Barbosa Vianna
Alguns tem se surpreendido com um eventual novo modus operandi na gestão democrática do ensino superior na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Sim, todos sabem que a gestão se dá (ou deveria) de modo colegiado e nos termos do Art. 56 da Lei de Diretrizes e Bases (LDB). Mas, pode ser que alguns “eleitos” ainda não tenham entendido seu papel republicano e que boas práticas de governabilidade exigem negociação em vista do bem comum, ao invés: “para os amigos os favores da lei e para os inimigos – os rigores da lei”.
Menos teleológico e mais direto foi o caso de um conselheiro que, na última reunião do Conselho Universitário (CUn), pediu para projetar o Regimento da casa e perguntou se “podiam” segui-lo. Era de se esperar boas e tradicionais práticas de consultar os colegiados antes de decisões que lhes afetam, tais como reuniões fora da sede, reuniões abertas, convocação extemporânea, e assim por diante. Ao menos a falta de quórum e o desconcerto perante a comunidade externa podem sinalizar algo. O problema é que se ao vivo e a cores está funcionando assim, nada impede que se prolongue nas práticas e despachos cotidianos, por vezes informais, pela própria natureza dos pequenos atos numa Instituição de Ensino Superior.
Mas há governantes que não admitem oposição alguma, não conseguem lidar com o contraditório, compor ou admitir que se equivocam, e isso acontece também com quem se diz de “esquerda”. Por essa razão, utilizam esse conceito binário (esquerda-direita) para desqualificar o interlocutor, servidor técnico administrativo, docente, discente ou quem ouse divergir.
Mas, o que poderia ser surpresa para uns, não tem nada de novo para outros, a não ser a amplificação de conhecidas práticas de grupos cujos óculos para gestão universitária se resumem a passar o tempo todo contando votos e fazendo conchavos para ocupar todos os espaços e garantir hegemonia, inclusive para resolver rasgar o estatuto, o regimento, as normas do Conselho Nacional de Educação (Conae), desfazer atos jurídicos perfeitos, coisa julgada, legítimas expectativas baseadas na boa-fé administrativa e assim sucessivamente pois, “entendo que” e “entendemos que” tem mais valor do que os próprios documentos
normativos, então, votamos. Mas os colegiados superiores já têm dado mostra que a autonomia não é fazer o que se quer à revelia do interesse público e é muito importante que toda a UFSC conheça e se manifeste sobre essas práticas, hoje visíveis, como o caso citado do CUn no início do texto.
O referido modus operandi social parece já estar desvelado, mas há outro que precisa logo ser elucidado pois é muito mais pernicioso. É o de desqualificar o debate criando narrativas fake news sobre a conduta pessoal, a fim de isolar e anular as lideranças, inclusive provocar para plantar em alguma cena algo que enquadre o opositor como bode expiatório em ilícito. Exemplos podem ser citados como em situações do tipo onde um fala e outros seguem o primeiro e falam a mesma coisa, sempre de natureza pessoal e para destruição da imagem com quem manifesta posições contrárias, contundentes muitas vezes.
Podia ser pior? Sim, com certeza. A infraestrutura da UFSC pode ser reconstruída com competência e trabalho. Mas o ferimento moral é muito mais grave e de cicatrização prolongada. Esperemos que no aniversário de um ano do grupo gestor que, nesse mandato, está gerenciando(?) essa universidade, possa acordar e perceber que a realidade da gestão é muito diferente do modus operandi aqui explicitado. E, mais ainda, que os “geridos” também acordem e comecem a perceber que possuem um papel fundamental para a construção de um outro cenário que, obviamente, pretende-se que seja melhor!
*William Barbosa Vianna é professor associado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com atuação no Departamento de Ciência da Informação (CIN).