Jornalista reconhecida por série de reportagens sobre família Bolsonaro, Juliana Dal Piva afirma ter orgulho de ser egressa da UFSC

Ela ministrou aula magna no curso de Jornalismo da universidade na última segunda-feira

Formada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Juliana Dal Piva voltou à instituição nesta segunda-feira, dia 10, para ministrar uma aula magna a convite do departamento e da pós-graduação de Jornalismo. No Auditório Henrique Fontes, Dal Piva falou sobre como a graduação na UFSC foi um marco na sua carreira, contou detalhes da sua trajetória profissional e comentou os ataques sofridos pela imprensa nos últimos anos. O presidente da Apufsc-Sindical, José Guadalupe Fletes, esteve presente no evento.

Primeira pessoa da família a ingressar em uma instituição de ensino superior pública, Dal Piva contou o quanto a passagem pela UFSC significou para ela. “Eu sou uma orgulhosa aluna dessa casa. Sonhei muito estar aqui. Os anos que passei aqui foram muito formadores da jornalista que sou e da Juliana.” Ela acrescentou ainda que a UFSC abriu muitas oportunidades na sua vida. “A gente sai e carrega, mais do que o diploma, a experiência.”

Mais de 120 pessoas, entre alunos e professores, acompanharam a aula no Auditório Henrique Fontes, do Centro de Comunicação e Expressão (CCE) da UFSC (Foto: Karol Bernardi/Apufsc)

Natural de Santa Catarina, depois de formada, a jornalista se mudou para São Paulo. Foi repórter da Folha de S. Paulo, O Dia e O Estado de S. Paulo, até se tornar colunista do UOL, veículo no qual Dal Piva lançou o podcast “A vida Secreta de Jair”, em 2021, e a reportagem sobre a compra dos imóveis em dinheiro vivo pela família Bolsonaro, em 2022. No mesmo ano, pela editora Zahar, publicou o livro “O Negócio do Jair: A história proibida do clã Bolsonaro”.

Logo no início da carreira, com a criação da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e a liberação dos arquivos do período da ditadura militar no Brasil, a jornalista começou a entrevistar militares. Parte do material apurado resultou na reportagem sobre o desaparecimento do deputado Rubens Paiva, que foi vencedora do prêmio Libero Badaró de Jornalismo Impresso, em 2014. Durante essa fase, Dal Piva conheceu Jair Bolsonaro, militar reformado e então deputado federal pelo Rio de Janeiro.

O interesse por Bolsonaro voltou em 2018, quando cobriu as eleições presidenciais que deram a vitória ao candidato. Com muito conteúdo reunido, fruto de anos de apuração, Dal Piva sentiu a necessidade de explicar a história do então presidente do Brasil e o contexto envolvendo as polêmicas de rachadinha da família Bolsonaro. As publicações, em diversos formatos, no entanto, colocaram a jornalista em evidência em um momento em que a profissão passou a ser atacada.

Juliana Dal Piva na UFSC (Foto: Karol Bernardi/Apufsc)

“Foi bastante opressor, sufocante, nunca achei que a minha geração de colegas viveria isso”, desabafou Dal Piva. Dentre as inúmeras intimidações que a jornalista recebeu, uma que ganhou grande proporção foi a ameaça feita pelo advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef, por mensagens de texto. “Faça lá o que você faz aqui no seu trabalho, para ver o que o maravilhoso sistema político que você tanto ama faria com você. Lá na China você desapareceria e não iriam nem encontrar o seu corpo”, escreveu Wassef em um trecho de mensagem enviada à jornalista.

Para Dal Piva, a profissão ainda está num processo de aprender a como lidar com essa nova realidade, de ataques e fake news. “Ficou impossível combater o grau de desinformação que a gente chegou, mas se deu para avançar um pouco contra isso foi pelo trabalho coletivo”, pontuou. Ela ainda completou que a “democracia é uma construção permanente e cabe a nós fazer valer a constituição todos os dias”.

Karol Bernardi
Imprensa Apufsc