“A mala de Jorge Amado”, da professora Tânia Ramos, trata sobre o exílio do autor no anos de 1941 e 1942. A obra apresenta dez anos de pesquisa em dez artigos
O projeto Livro na Praça – Ler para se Libertar, da Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC), foi retomado na última sexta-feira, dia 17, com edição sobre a obra “A mala de Jorge Amado”, da professora Tânia Ramos. O projeto, que consiste em um encontro entre escritores e leitores e venda de livros a preços acessíveis, já tem programação para o semestre. Nas 12 edições realizadas em 2022, cerca de 500 títulos foram vendidos.
Nesta edição de retomada do projeto, mais de 50 pessoas estiveram presentes na Igrejinha da UFSC para prestigiar o trabalho coordenado pela professora Tânia Ramos, recém-aposentada do Departamento de Língua e Literatura Vernáculas (LLV). Entre os presentes, estavam ex-alunos da professora e colegas de profissão. O reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza, e a pró-reitora de Graduação e de Educação Básica, Dilceane Carraro, também marcaram presença.
O encontro foi aberto pelo diretor da EdUFSC, o professor Waldir José Rampinelli, que cumprimentou os presentes e comemorou a renovação do projeto. Rampinelli também falou sobre a importância da leitura: “São os livros, e não as armas que mudam o mundo. E nós derrotamos as armas.”
O reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza, elogiou o projeto. Ao ressaltar o trabalho de aproximação que a sua gestão está realizando com outras entidades federais de ensino de Santa Catarina, o reitor elogiou que a EdUFSC esteja indo no mesmo caminho, ao convidar músicos da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) para tocarem na edição. Irineu destacou que é por meio desse trabalho conjunto que se tornará possível “mostrar para a sociedade que a universidade pública é o maior patrimônio do país.”
O Duo Titton & Barros, composto pelos professores João Titton (violino) e Luís Claudio Barros (piano), tocou três peças brasileiras.
Evento reuniu mais de 50 pessoas na Igrejinha da UFSC (Fotos: Lais Godinho/Apufsc)
Cercada de amigos, a professora Tânia se emocionou ao dizer que essa era sua primeira atividade depois da aposentadoria, que saiu no dia 24 de fevereiro. Ao se aposentar, a professora contou que foi questionada se sentiria falta da UFSC. “Se fosse para não sentir falta, teria valido a pena?”, conta que respondeu. O trabalho com a obra de Jorge Amado foi uma das experiências que fez com que a carreira docente tenha “valido a pena” para professora.
Em julho de 2012, Tânia conta que estava em sua sala quando a professora emérita Leonor Cabral passou e disse que tinha algo a lhe dar, a “mala do Jorge Amado”. Tânia concordou, apesar de não acreditar. No dia seguinte, Leonor lhe entregou uma sacola de loja com 1.400 páginas de documentos que pertenceram a Jorge Amado. Os documentos datavam de 1941 e 1942, quando o autor esteve em exílio em Buenos Aires e trabalhou na biografia de Carlos Prestes, intitulada “O Cavaleiro da Esperança”.
A professora Leonor já havia oferecido os documentos a outros dois professores que recusaram, porém Tânia aceitou o desafio. No início, sem saber o que fazer, guardou os documentos em um arquivo. Três meses mais tarde, em outubro, conseguiu uma bolsista para finalmente começar a abrir a mala de Jorge Amado. A professora Tânia se emociona ao contar do apoio que recebeu de suas alunas: “Sou muito grata à juventude. Se não fossem minhas bolsistas, mestrandas e doutorandas, eu jamais teria feito o que fiz e descoberto o que descobri.”
Professora Tânia Ramos contou sobre a pesquisa que realizou com o apoio de estudantes. Ao mencionar as estudantes, a professora pediu para aquelas que estava presentes se levantarem para que o público as conhecesse (Fotos: Lais Godinho/Apufsc)
Ao todo, foram dez anos de pesquisa realizada no Núcleo Literatura e Memória (nuLIME) do Centro de Comunicação e Expressão (CCE) da UFSC. A obra apresenta dez artigos com os resultados dessa pesquisa, que conseguiu recuperar dois anos da vida de Jorge Amado que eram ocultos em sua biografia oficial. O livro “A mala de Jorge Amado” pode ser acessado gratuitamente no site da Biblioteca Universitária (BU) da UFSC.
Próximas edições
Março
31/3: Encontro com o escritor Flávio José Cardozo
Abril
14/4: Professor Fábio Lopes – “Em defesa da liberdade”
28/4: Professora Juliana Salles Machado – “Abril Indígena”
Maio
12/5: Professora Zilma Guesser – Cruz e Sousa: a negritude na obra do poeta negro
26/5: Professores Raphael Grazziano e Lino Peres – A arquitetura e a cidade
Junho
16/6: Jornalistas Elaine Tavares e Miriam Santini de Abreu – Jornalismo independente e a crítica do cotidiano
23/6: Professor Waldomiro da Silva Códices – Os primeiros livros da história da América Latina, de Miguel León-Portilla
30/6: Professores Paulo Capela e Edgard Matiello – Esporte e lazer na cultura dos trabalhadores
Lais Godinho
Imprensa Apufsc