Mara foi uma das criadoras do curso de Psicologia na universidade. Aposentada em 2010, ainda atua no Instituto de Estudos de Gênero
Natural de Caçador, no Meio-Oeste de Santa Catarina, Mara Lago mudou-se para Florianópolis aos 10 anos de idade. Formou-se em Pedagogia pela Universidade do Estado de SC (Udesc), fez mestrado em Antropologia pela Universidade Federal de SC (UFSC) e doutorado em Psicologia da Educação pela Unicamp. Em 1969, ingressou como docente da UFSC e foi uma das criadoras do curso de Psicologia na universidade.
“Na época já havia o departamento, mas ainda não tinha o curso de Psicologia. Trabalhávamos com as licenciaturas. Depois nós é que criamos o curso de Psicologia, com Emiliana Simas da Silva, que era nossa catedrática”, recorda Mara. Ela observa que, naquele momento, “já tinha muitas mulheres na área de humanas”, e percebeu, ao longo dos anos, o aumento da presença de mulheres no ambiente universitário. “Esse fenômeno das mulheres estarem ultrapassando os homens nas matrículas é global e acontece aqui também, há bastante tempo”.
No decorrer de quase quatro décadas, Mara também foi uma das fundadoras do Serviço de Atenção Psicológica da UFSC (Sapsi) e do Laboratório de Psicologia Experimental. A pesquisadora foi uma das criadoras do mestrado em Psicologia, do qual foi a primeira coordenadora. Mara também colaborou na constituição do doutorado interdisciplinar em Ciências Humanas, que reúne professores de diversos departamentos numa perspectiva inovadora.
A diversidade é a marca de todas as frentes de trabalho em que Mara atuou. Ela defende que, “não só a participação das mulheres, mas de estudantes que ingressam por meio de cotas sociais, de pessoas negras, de indígenas, tudo isso traz outros questionamentos e outras teorias”. Para ela, é flagrante o impacto positivo da diversidade na produção científica.
As pesquisas de Mara tiveram como foco prioritário a psicologia social nos temas gênero, gerações, subjetividades, modos de vida, procurando sempre enfoque interdisciplinar, como sua formação. Ela orientou mais de 50 dissertações, teses e trabalhos de iniciação científica, e participou de cerca de 100 bancas examinadoras de mestrado e doutorado, além das qualificações de doutorado e bancas de TCCs. Em 2010, Mara se aposentou “na compulsória”, como gosta de enfatizar, e em 2011 recebeu o título de professora emérita da UFSC.
No entanto, nunca se distanciou da universidade. Mara participa do Instituto de Estudos de Gênero (IEG/ UFSC) e da coordenação editorial da Revista de Estudos Feministas, além de ser uma das organizadoras do evento Fazendo Gênero.
Ainda segue atuando como professora voluntária nos programas de pós-graduação em Psicologia (PPGP) e Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH), dos quais pretende se afastar em 2023 para dedicar-se prioritariamente ao IEG.
Além disso, Mara, que é filiada à Apufsc-Sindical, é uma defensora da universidade pública, e reflete sobre o momento atual. “Esses ataques à universidade são resultado de uma política conservadora, nazista, fascista, que atacou a educação, saúde, políticas públicas. Esses quatro anos de governo Bolsonaro foram de tentativa de desmonte de tudo aquilo que os movimentos de mulheres, de agricultores, movimentos urbanos, movimentos negros, indígenas, criaram”, reflete.
“Todos esses movimentos que lutam por igualdade, por políticas sociais, obtiveram muitas conquistas, e essas conquistas também atiçaram toda a misoginia, homofobia, transforbia, racismo, sexismo”, pontua Mara. Ela pondera, no entanto, que existe otimismo. “A gente sabe que é difícil reconsturir o que foi desmontado, mas claro que a gente tem perspectiva. Tem mudanças que não voltam atrás, podem até ser atrapalhadas, mas não voltam”.
Stefani Ceolla
Imprensa Apufsc