Por Alexandre Busko Valim*
Eu me dei ao trabalho de ler com cuidado os textos de apresentação e as propostas das chapas 1 e 2 que concorrem para a eleição da Apufsc-Sindical. Como muitos colegas, fiquei surpreso com as semelhanças entre elas. Como eu, talvez outros tenham alguma dificuldade para entender suas diferenças e, principalmente, compreender por que, afinal, temos duas chapas “tão parecidas”, no discurso, concorrendo para o sindicato?
Como o documento da chapa 1 Apufsc mais forte nas lutas apareceu primeiro, seria plausível inferir que a oposição, no caso a chapa 2 Composição: Autonomia e Democracia, se inspirou nele. Mas é apenas uma ilação. Inspirado pelo horário eleitoral na televisão e no rádio, que nos invade todos os dias, e no qual todos os gatos são pardos, procurei fazer um exercício refletindo sobre a trajetória dos respectivos grupos e suas ações concretas, porque, como diz o provérbio: “o diabo mora nos detalhes” e a prática é prova da verdade. Assim, fiz um breve exercício:
A primeira questão que me chama a atenção é que a chapa 2: Composição: Autonomia e Democracia sempre recorre a ideia de unidade, vi isso repetidas vezes nas últimas assembleias, quase um mantra. Mas o que eles querem dizer com unidade? Afinal, quando puderam praticar a unidade sindical, eles criaram um sindicato paralelo que, entre 2009 e 2011, gerou um imenso desgaste para a Apufsc-Sindical, corroeu a categoria, trouxe uma imensa confusão entre os sindicalizados e um divisionismo nunca visto na história dos professores. Até hoje tenho dificuldade de explicar para os novos colegas o tamanho do estrago que os andesianos da UFSC produziram. É possível concluir, portanto, que, para eles, unidade só existe quando a direção da organização está sob seu controle. Unidade é quando eles mandam! Parece claro que quando a chapa 2: Composição: autonomia e democracia fala em unidade sindical isso é uma profunda hipocrisia.
A segunda questão é o recurso que fazem à noção de democracia. Democracia aparece em suas práticas, como meramente instrumental, uma simples abstração, não como um fim em si mesma. Basta prestar atenção ao debate que se travou nos últimos meses para a filiação nacional da Apufsc-Sindical. O grupo andesiano, reunido na chapa 2, em primeiro lugar disputou, no Conselho de Representantes, os votos para sua proposta; perdida essa batalha, recorreram duas vezes ao judiciário tentando impedir a realização da assembleia geral. E, durante todo o processo (reitero, perdido no voto) acusavam a direção do sindicato, e seu presidente em particular, de golpista e, por extensão, ofendiam todos os membros do Conselho de Representantes que não votaram na proposta andesiana. Derrotadas as duas ações judiciais tentaram uma terceira ação, junto ao Ministério Público, pedindo uma multa diária de R$ 10.00,00 (dez mil reais) para a pessoa física do presidente do sindicato. Acreditem, se quiser!
A pergunta que fica é: onde ficou dormindo a democracia dos andesianos? Democracia, para eles parece ser apenas um grito performático quando sua proposta é derrotada em votação. Eles parecem ter dificuldade de entender que Democracia existe quando ganhamos, mas também quando perdemos e que democracia é, antes de tudo o respeito às regras do jogo.
Por fim, mas não menos importante, eu queria saber: a judicialização é cabível numa disputa sindical entre companheiros de profissão e, principalmente, do mesmo campo político? Qual deve ser o limite para uma disputa política, sempre legítima? Ao recorrer à justiça três vezes, os andesianos da UFSC estabeleceram uma espécie de vale tudo, de tudo ou nada, no qual a ética dos companheiros de trabalho foi para o espaço. Fico me perguntando o quanto esse tipo de prática dos andesianos da UFSC contribui para o notório enfraquecimento da vida sindical, no momento em que o sindicato é mais importante e necessário.
A questão principal aqui é que não basta ler os programas e as propostas das chapas, como nas eleições majoritárias para prefeito, governador, presidente é preciso considerar o que os candidatos fizeram no verão passado.
Por isso, voto na chapa 1.
*Professor do Departamento de História da UFSC