“Inep trocou quatro vezes de titular e a diretoria responsável pela prova ficou sem titular por meses”, lembra Claudia Costin, ex-diretora do Banco Mundial para Educação
Durante todo o mês de novembro, Weintraub repetiu em falas públicas e nas redes sociais que o primeiro Enem sob sua gestão à frente do Ministério da Educação (MEC) seria o melhor exame da história do país.
Especialistas em educação e professores ouvidos pela BBC News Brasil, no entanto, dizem que uma série de imprevistos — alguns com consequências graves, como a atribuição de notas erradas a milhares de candidatos, segundo admitiu o próprio MEC — mostram que a propaganda feita pelo ministro não se confirmou.
Para milhões de jovens brasileiros, a nota no Enem — e sua celeridade — tem enorme importância, já que é critério para seleção em universidades públicas e privadas, além de bolsas de estudos e financiamento de mensalidades em programas como o Prouni e o Fies, respectivamente.
Os problemas da edição de 2019 da prova começaram em 1º de abril, com o anúncio da falência da gráfica RR Donnelley, responsável pela impressão do Enem desde 2009.
Depois de 25 anos de operações no Brasil, a multinacional encerrou suas operações no país alegando “as atuais condições de mercado na indústria gráfica e editorial tradicional, que estão difíceis em toda parte, mas especialmente no Brasil” e pegou o governo de surpresa.
Vinte dias depois, o governo anunciou a contratação de uma nova gráfica às pressas, sem licitação. A substituta foi a Valid Soluções S.A., com um contrato de R$ 151,7 milhões.
Dança das cadeiras no Inep
Ao mesmo tempo em que apontam que uma prova com tantos contratempos não pode ser considerada a melhor da história, os especialistas concordam que um exame desta magnitude — o Enem teve 6,38 milhões de inscritos em 2019 — tem logística difícil e que não é a primeira vez em que problemas são identificados.
O problema mais grave até hoje foi registrado em 2009, quando a prova foi roubada de uma gráfica paulistana e precisou ser cancelada, levando universidades a desistirem de usar o resultado como critério de seleção.
“As outras edições do Enem também tiveram problemas, mas aparentemente os problemas deste são maiores”, avalia Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (CEIPE) da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-diretora do Banco Mundial para Educação.
Além da contratação da gráfica sem licitação e do erro nas correções, a especialista lembra que “o Inep trocou quatro vezes de titular e a diretoria responsável pela prova ficou sem titular por meses”.
De janeiro a maio de 2019, o órgão responsável pelo Enem foi dirigido inicialmente por Maria Inês Fini, que esteve à frente do Inep até janeiro e apoiou a transição entre os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro.
Depois, quem assumiu foi o professor Marcus Vinicius Rodrigues, exonerado em 26 de março, um dia depois de cancelar a avaliação federal de alfabetização, medida revogada pelo MEC em meio a uma onda de críticas.
Seu substituto, Elmer Coelho Vicenzi, ficou apenas 18 dias no cargo e também foi demitido em meio a uma disputa interna sobre a divulgação ou sigilo de indicadores educacionais produzidos pelo órgão. Em seguida assumiu o engenheiro químico Alexandre Lopes, que segue no cargo.
“Falar em melhor Enem da história é uma abordagem meio midiática”, diz Costin. “Educação tem que ter politica técnica, sólida, e menos mídia associada. Tem que ser vista com serenidade e não com impulsos. Então, de fato, ele operou mal o papel de ministro nessa questão.”
Leia na íntegra: BBC Brasil