Por Lúcio Botelho
Nesse ano de 2022, completamos 50 anos de Universidade Federal de Santa Catarina, seis como estudante e 44 como docente, período em que, com muita honra e orgulho participamos da administração universitária em vários níveis, sendo que de 2004 a 2008 na condição de Reitor.
Ainda continuamos em atividade de sala de aula, pesquisa e extensão, e com certeza vivenciamos ao longo dessa trajetória as sobejamente conhecidas ações dessa instituição que está muito acima dos ataques que sofre de uma parcela da sociedade que pouco a conhece ou nega conhecer.
Ataques de quem entende universidade de forma minúscula, como se fosse somente uma escola de terceiro grau, formadora acrítica e pouco qualificada de profissionais. Uma verdadeira Universidade, como a UFSC, sempre estará na vanguarda em todas as áreas do conhecimento, seja garantindo o patrimônio cultural das fortalezas da ilha, a preservação do aquífero Guarani ou a produção de moluscos e camarões, geradora de renda e de milhares de empregos.
É essa Universidade plural que educa para a liberdade, que cria modelos pioneiros para a educação inclusiva nos campus ou para a educação a distância, que qualificou milhares de professores para as redes pública e privada do Brasil, sempre visando a elevação do nível educacional e a ascensão social de uma enorme parcela da sociedade.
É essa Universidade que rompe os limites da ciência e gera produtos que contribuem com o planeta, como a compressão de refrigeração por gases inertes à camada de ozônio ou novos produtos químicos, que contribui com a saúde através de suas clínicas e que demonstrou toda a sua capacidade na atual pandemia.
Porém, nesse momento de ataques dirigidos não gratuitamente, como ex-reitor não podemos calar diante do aviltamento acerca dos processos internos de escolha dos nossos dirigentes.
Historicamente, cabe destacar que fomos a primeira universidade brasileira a consultar a comunidade para escolhermos reitor. Em plena ditadura, no ano de 1983, escolhemos em duas listas sêxtuplas reitor e vice-reitor em listas independentes e separadas, que tiveram como consequência a escolha do primeiro nome da lista para reitor e não com o vice-reitor, por intervenção política.
A partir do pleito seguinte, todos os reitores da UFSC foram escolhidos exatamente como no pleito atual. Mesmo após a sua regulamentação em 1995 através da lei nº 9.192, de forma autônoma e soberana a UFSC sempre usou essa forma de escolha de consulta, depois referendada por um colegiado cujas proporções segue a referida lei.
Por isso, nos sentimos com a obrigação de defender a escolha da chapa vencedora, composta pelo professor Irineu Manoel de Souza e pela professora Joana Célia dos Passos, com a isenção de quem não a apoiou, mas com a convicção democrática de que o respeito às urnas dessa eleição é o respeito à trajetória histórica e vitoriosa dessa que é uma das maiores instituições federais de ensino do Brasil.
Em nome da coerência e do respeito à instituição e acima de tudo a todos nós, que nos elegemos da mesma forma, exorto a defesa de todos os valores que essa defesa representa.
*Professor Lúcio José Botelho é ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina