A Apufsc completa, neste dia 24 de junho, 46 anos de batalhas em defesa dos professores e professoras das universidades federais de Santa Catarina. Uma história de luta para garantir o ensino público, gratuito e de qualidade, o funcionamento da universidade, a carreira e os direitos dos professores e professoras e as condições para que possamos exercer nosso trabalho.
A Apufsc foi fundada em 1975 por um grupo de 95 professores que se reuniram na assembleia de fundação sob a presidência de Hamilton Nazareno Ramos Schaefer. Desde então, milhares de docentes se uniram em torno da Apufsc e ajudaram a escrever essa trajetória. Hoje somos 1609 filiados e 1426 filiadas.
Queremos abrir espaço nos nossos canais de comunicação para contar a história dos sindicalizados com a Apufsc, e da própria entidade, reunindo depoimentos, fotos, registros em um mural colaborativo. Envie seu causo, suas lembranças do sindicato, passagens que, na sua avaliação, ajudam a construir essa história e que merecem ser divididas com as novas gerações de docentes da UFSC.
Recordar é preciso!
Envie seu depoimento por e-mail para [email protected] ou por WhatsApp, no número 48 99692-3113. Vamos reunir o material e publicar no nosso site e redes sociais.
Depoimento da Professora Marília Matos Gonçalves
Sou filiada à Apufsc desde 2006, ano em que ingressei na UFSC como professora efetiva. Conheci a Apufsc através do professor Antônio Carlos de Souza – o Toninho -um colega de departamento (EGR – Departamento de Expressão gráfica) e amigo muito querido. Ele, como entusiasta da Apufsc, a cada professor que entrava no departamento, chegava e dizia… “vem cá, tu já conhece a Apufsc?”, e sempre prestativo, explicava pra cada um o que era a Apufsce quais as vantagens de ser filiado. Penso que por intermédio dele, muitos se associaram. De lá pra cá, a Apufsc é o meu canal de informação sobre meus direitos e sobre as lutas em prol do ensino superior público, gratuito e de qualidade. Sou do tempo do cafezinho lá perto do CFM, e mesmo sem gostar de café, fui algumas vezes dar uma volta por lá com alguns amigos pra socializar (Profs. Sérgio Ulbricht, Virgílio Peixoto, Toninho, Speck, Julio e outros). Participei junto com outro colega (prof. Luiz Salomão Ribas Gomez), do projeto da atual marca da Apufsc. Um projeto que trouxe muito aprendizado ao nosso LOGO (Laboratório de Orientação da Gênese Organizacional). Nesse projeto, conheci um pouco mais da estrutura e funcionamento da Apufsce a equipe que está lá sempre solícita, quando tenho dúvidas sobre minha vida como professora da UFSC, uma instituição tão amada. PARABÉNS APUFSC pelos seus 46 anos.
Depoimento do professor Fábio Lopes da Silva ( DLLV-CCE-UFSC), sindicalizado desde 1994
Final do anos 1990. O governo Fernando Henrique Cardoso tentava impor o seu projeto de desmonte da universidade pública. Desfinanciamento, achatamento salarial e desorganização da carreira ameaçavam os docentes. Uma greve nacional de cerca de cem dias, com adesão maciça, foi a resposta encontrada por professoras e professores na ocasião. Na UFSC, assembleias com centenas de sindicalizados promoviam intensos debates e orientavam as decisões do Comando Nacional de Greve. A firmeza do movimento — que resistiu até a corte integral de salário determinado pelo MEC — dobrou o governo, que teve que recuar de suas intenções mais deletérias. Na assembleia final, que encaminhou a saída de greve e celebrou seus resultados, pedi a palavra. Ao chegar ao microfone, vi uma bandeira do ANDES-SN perto de mim. Tomei-a nas mãos e, ato contínuo, me abracei a ela. Fiz toda a minha fala assim, com a bandeira envolvendo meu corpo. Todos os oradores que me sucederam repetiram o gesto. Momento mágico, sublime.
Depoimento do professor José Fletes, Professor do CTC–INE e diretor de assuntos de aposentadoria na gestão 2020-2022
Ingressei na UFSC em março de 1977 como professor colaborador e lembro que ao assinar o contrato, o servidor do departamento de pessoal, Sr Madaloni, me alertou que junto com o contrato acompanhava ficha de filiação à ASUSFC (Associação dos Servidores da UFSC) apoiada pela gestão da universidade à época e o reitor “sugeria” a assinatura “voluntária” dos dois documentos, pois a APUFSC (Associação dos Professores da UFSC) era considerada oposição à reitoria. Me negue a assinar a ficha argumentando que a ficha de filiação apresentada não era documento legal. Após a assinatura do contrato, me dirigi à sede da APUFSC que tinha sido criada em 24/6/75 (sede do Campus, única naquele ano) para filiação, obtendo a inscrição de nº 407 e recebendo as boas-vindas por parte do Presidente Hamilton Schaefer que se encontrava na sede no momento, tomando um cafezinho no Senadinho (a igual que o café do calçadão). Logo após, também me associei à ASUSFC (como servidor docente) e à AAVUFSC (Associação Atlética dos Volantes da UFSC) que também aceita filiação de servidor docente.
Embora considerada de oposição por parte da reitoria, a APUFSC no seu início apenas era uma entidade mais de caráter associativo (no meu entender, um Clube Social). É decorrente dessa forma de atuação que, em 1978 um movimento liderado pelo Prof. Osvaldo de Oliveira Maciel do CCB (R.I.P) encabeça a Chapa “Luta e Independência”, com o Prof. Jorge Lorenzetti do CCS como Vice-Presidente e lembro da composição plural do ponto de vista ideológico, entre os quais, a Profª Zuleika Mussi Lenzi do CFH, o Prof. Sílvio Coelho dos Santos do CFH (R.I.P), o Prof Longuinho da Costa Machado Leal do CTC, o Prof. Ayrton Roberto de Oliveira do CCB (R.I.P) e o Prof. Valmir Martins do CFH. A chapa obtém uma grande vitória, pois precisava de um instrumento de luta para reivindicações latentes que os docentes demandavam e fazer frente aos desmandos do regime militar às sombras do AI-5.
Nas décadas de 80 até final do século, o movimento docente ganha as ruas e participamos ativamente das diversas lutas, tanto a nível local, regional e nacional. Em novembro de 1980 se dá a 1ª Greve das Federais Autárquicas e a APUFSC atua de forma incisiva, culminando em 1982 com a articulação do 1º Congresso em Florianópolis e a participação de mais de 600 professores de todo o país, que cria o ANDES- SN, sendo eleito como Presidente o Prof. Osvaldo Maciel com uma composição plural e progressista. Uma série de movimentos grevistas ocorrem ao longo desses anos, com muitas vitórias em prol da melhoria da carreira docente e salariais, mas também muitas derrotas que servem de experiência para amadurecer o processo de encaminhamentos de decisão por um número representativo e significativo da categoria, para a entrada em movimentos de paralisação.
Um fato marcante, da importância do instrumento de defesa e luta da categoria, ocorreu em 13 de agosto de 1982 quando a Polícia Federal avisa o reitor (à época o Prof Ernani Bayer_CCJ) apresentando-lhe um mandato de apreensão e busca contra minha pessoa, emitido pelo Ministro da Justiça (Ibrahim Abi-Ackel) por portar material subversivo (documentos sobre a guerrilha do Araguaia). Me encontrava em aula às 13:30 no CTC, mas sou avisado que haviam invadido minha residência no Córrego Grande, Conjunto Guarani. Suspendi imediatamente a aula e ao chegar em casa, se encontravam, além da PF, estudantes de jornalismo, procurador Fagundes da UFSC, advogado pela APUFSC (Prof Ubaldo Balthazar, isso mesmo, atual reitor) a pedido do Presidente Prof Raul Günther (R. I. P), advogados do Sindicato do Engenheiros e da OAB que não permitem ser conduzido no camburão e me acompanham até a delegacia no Estreito, gestionando por mais de quatro horas a minha liberação, mas marcando depoimento para segunda-feira às 14h (16 de agosto).
Outro fato interessante de registrar, foi o da participação na 1ª eleição direta paritária para reitor, final do ano de 1983, onde a disputa se dá apresentando lista sêxtupla (regras do jogo à época a ser apresentada ao Cun) confrontando pela reitoria uma chapa encabeçada pelo Prof Rodolfo Joaquim Pinto da Luz_CCJCCJ (que ocupava o cargo de Pró-Reitor de Administração na gestão do Prof Eernai Bayer) e pelo movimento da comunidade universitária (articulado pela APUFSC, DCE, APG e à época ASUSFC – atual SINTUFSC) com uma composição plural e liderada, lembro, pelos Professores Osvaldo de Oliveira Maciel_CCB, Arno Bollmann_CTC, Marco Aurélio da Rós_CCS e mais três que ora não lembro. Perdemos essa eleição por pequena margem da paridade, vencendo no voto universal, mas demonstrando quão forte é o poder estabelecido. O Prof Rodolfo assume de 1984 a 1988 sua 1ª gestão praticamente de sobrevivência devido aos parcos recursos e problemas estruturais que demandariam mudança de estatuto. Participa nessa gestão o Prof Sílvio Coelho dos Santos_CFH como Pró-Reitor de Graduação e Pós-Graduação (que à época era uma só).
A nossa entidade tem-se pautado, em sua maioria, por ter diretorias que defendem princípios que primam pelas composições ideológicas de caráter plural, de lutas e ação independente e autônoma perante as gestões administrativas com relação respeitosa e de respeito às reivindicações e demandas da categoria que representa. Daí seu crescimento e fortaleça em congregar todas as ideologias e posturas políticas partidárias, sem confundir seu papel de entidade de ampla representação primando no respeito às instâncias deliberativas para encaminhar as decisões essenciais em defesa do ensino público e gratuito de qualidade, bem como os interesses da categoria docente.
No meu entender, nos últimos anos do século passado e início deste, aflora uma forte partidarização e aparelhamento da entidade nacional e aqui, na APUFSC muitos insatisfeitos realizam um movimento de pressão por uma decisão de desfiliação da nossa entidade, que ocorre em 2009 com uma votação estrondosa: 60,37% pela desfiliação e 39,63% contra a desfiliação. Decorre dessa decisão, uma fuga dos derrotados, optando por constituir uma entidade paralela com a tentativa de se opor à APUFSC que mantém diretorias por alguns anos num processo que, praticamente retoma as origens de sua criação (o Clube Social predominando), entrando num imobilismo entre 2010 e 2018, quando o movimento liderado pelo Prof Carlos Alberto (Bebeto) Marques do CED encabeça uma Chapa plural, como Vice-Presidenta a Profª Patrícia Plentz do CTC e mais colegas das diversas unidades, propondo a participação de representação dos Campi através do Grupo Especial para atividades sindicais (que não é contemplado pelo estatuto) e se consiga a retomada da entidade para reintegrá-la na luta docente, requerendo muita paciência de expor um plano de trabalho que contemple os anseios da categoria, considerando os ativos e inativos.
Estamos na 2ª gestão “Avançar nas Lutas” sob a liderança do Prof. Bebeto (2020-2022), Prof. Camilo Araújo do Colégio de Aplicação como Vice-Presidente e uma diretoria, também de composição plural, com participação de alguns colegas ex-integrantes do movimento de Andesianos que judicialmente se viram obrigados a fechar a entidade paralela. Está no programa, a partir da atual conjuntura, a necessidade de discutir e decidir sobre o processo iniciado em 2019, finalizar o processo de deliberação sobre Filiação Nacional (se ao Proifes-Federação ou ao ANDES-SN) e para o qual precisa aprofundar todos os aspectos gerais do Estatuto e principalmente a questão da Carta Sindical, bem como a processo de filiação/fusão/dissolução/incorporação segundo a portaria 17.593/MEC/2020 e os detalhes necessários de quórum de votação. A categoria precisa participar ativamente das decisões fundamentais com toda informação para decidir o futuro da entidade! Vida longa a uma APUFSC plural, independente, suprapartidária e de luta!