João Carlos Salles explica ao Brasil de Fato os impactos do corte de verbas das universidades federais para manter as atividades
O cenário de retrocessos e ataques à universidade pública ganha novos contornos a cada ano. Em 2021, diante do corte de quase 20% das verbas destinadas para as universidades federais, algumas instituições afirmam que é difícil manter as atividades no próximo semestre, caso a asfixia orçamentária não seja revertida.
Nesse contexto, o Brasil de Fato entrevistou o reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), João Carlos Salles, para entender a situação de tal instituição e o que se aponta para os próximos períodos no tocante a mobilizações para enfrentar o problema.
BdF BA: Qual a situação da UFBA hoje em relação ao orçamento?
João Carlos Salles: Nós temos uma involução do orçamento da universidade, não só da Federal da Bahia, mas de todas as universidades federais. Isso significa que, em um certo momento, passou-se apenas a se repor aquele valor nominal: aquilo que foi gasto no ano passado, passava a se colocar aproximadamente o mesmo valor, com pequenas quedas no ano seguinte. Só que sabemos que temos inflação, desvalorização.
Em 2016, o orçamento da UFBA em custeio (serviços, energia, água, vigilância, insumos, reformas) era R$ 167 milhões. Ao longo do tempo foi caindo e agora está em R$ 127 milhões. Ele vinha se mantendo no mesmo patamar e agora tem uma queda brusca.
Mas, ao se manter no mesmo patamar, ele não fazia o reajuste da inflação. Se fossemos aplicar apenas o IPCA naquele valor de 2016, nós hoje teríamos que ter R$ 207 milhões para ser equivalente. Em 2020, a verba para custeio e capital cai para R$132 milhões. Essa queda reforça, portanto, a defasagem que fomos tendo ao longo do tempo.
Tem um lado grave de um ataque a todas as universidade públicas. Há uma verba chamada de investimento/capital com a qual fazemos obras, compramos material permanente, equipamentos de laboratório. Em 2015 o valor era de R$ 36 milhões.
Esse ano tinha sido colocado somente R$ 5 milhões. Isso tem acontecido em todas as universidades. É uma queda brutal nessa rubrica chamada de capital. O que isso significa? Que estamos sucateando o parque universitário. A UFBA tem 168 prédios. Mais grave ainda: na hora da sanção da lei, o presidente ainda vetou R$ 4 milhões do nosso investimento. Ou seja, a UFBA, hoje, teria para fazer tudo isso – comprar carteiras, ar condicionados, equipamentos e fazer obras – R$ 500 mil. É reduzir o orçamento de capital a nada.
É um corte de quase 19% no nosso orçamento. Isso é gravíssimo. Porque com isso nós voltamos ao orçamento inferior ao de 2010. A UFBA sofreu um corte de R$ 7,2 milhões da assistência estudantil. É com esse recurso que nós pagamos auxílios. E com isso atacam a qualidade em outro aspecto, em relação a esse apoio que nós podemos dar ao estudante para que, na universidade, ele desenvolva seu talento, traga seu talento, sua cor, sua história para dentro da universidade não sofrendo a exclusão que ele sofre lá fora.
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