Menos da metade do orçamento federal previsto para a UFRJ está disponível para execução, aponta Folha
A possível paralisação das atividades da UFRJ por falta de recursos até para pagar conta de energia já seria uma tragédia suficiente se não estivéssemos enfrentando uma pandemia. No contexto da Covid-19, no entanto, o anúncio da insustentabilidade financeira de uma das melhores universidades brasileiras ganha tom de surrealidade.
A universidade tem um orçamento projetado neste ano de R$ 383 milhões para arcar com serviços de limpeza, de segurança e com despesas ligadas às suas atividades mínimas de ensino, pesquisa e extensão. O problema é que o orçamento federal previsto para a universidade é de R$ 299,1 milhões em 2021 –e menos da metade dos recursos está, de fato, disponível para execução (R$ 146,9 milhões). O restante demanda suplementação via Congresso Nacional, que pode não acontecer.
Com a quantia que tem disponível em caixa, a UFRJ consegue operar até o meio do ano. Depois disso, não tem mais como pagar suas contas básicas –e pode fechar as portas. Muitas portas: nove hospitais universitários, treze museus e mais de 1.450 laboratórios de pesquisa, em atividades que reúnem mais de 60 mil alunos na graduação e na pós.
Para se ter uma ideia, parar a UFRJ significa interromper leitos de UTI para Covid-19 e inviabilizar, por exemplo, pesquisas em andamento para o desenvolvimento de novas formas de diagnóstico e de uma possível vacina nacional contra o coronavírus.
Isso sem contar as pesquisas em andamento em outros temas. Antes da Covid-19, a UFRJ já se destacava por trabalhos de excelência mundial em áreas como petróleo. Também foram pesquisadores da universidade que fizeram o genoma do zika vírus e que compreenderam os danos que o microorganismo causa no cérebro –só para citar alguns exemplos.
Qual seria a reação mundial se a Universidade de Oxford, no Reino Unido –que produziu com a Astrazeneca uma das vacinas contra Covid-19 disponíveis no Brasil– anunciasse que vai fechar as portas por falta de dinheiro? Pois é.
Nenhum país do mundo enfrenta a Covid-19 – ou qualquer outro problema complexo – inviabilizando suas melhores instituições de pesquisa por falta de verba. Ao contrário: em tempos de pandemia, países desenvolvidos aumentam os esforços em ciência e incentivam parcerias para viabilizar soluções.
Enquanto universidades de excelência reúnem seus cientistas em coletivas de imprensa globais para divulgar inovações no enfrentamento da pandemia, no Brasil, gestores da UFRJ precisam se juntar para apresentar gráficos financeiros assustadoramente em declínio – e para pedir ajuda.
Leia na íntegra: Folha de S. Paulo