As entidades argumentam que a nomeação pode causar riscos à pós-graduação e fomento à pesquisa no País
Entidades científicas de diferentes áreas do conhecimento enviaram carta aberta à CAPES na última sexta-feira, 16, expondo consternação frente à nomeação de Cláudia Toledo como presidente da agência, solicitando sua imediata substituição. O documento, que pode ser lido na íntegra aqui, mostra a total inadequação do perfil de Toledo para tão importante cargo e alerta para os riscos à pós-graduação e fomento à pesquisa, já fragilizadas nos últimos anos.
Segundo a carta, “sua permanência mostra flagrante conflito com o trabalho de milhares de pesquisadores e pesquisadoras brasileiros no esforço de formar futuros mestres e doutores em bases éticas, científicas e profissionais”. A ANPEd também assinou carta junto a Abrasco e outras entidades sobre esse grave contexto.
CARTA ABERTA EM DEFESA DA CAPES
Atônitos e constrangidos pela indicação à presidência da CAPES no dia de ontem, vimos expressar nossa mais profunda rejeição à nomeação da advogada Cláudia Mansani Queda de Toledo, como presidente desta instituição.
A presidente nomeada não possui uma carreira acadêmica compatível com a missão desempenhada pela CAPES ao longo da existência desta tão conceituada agência de fomento. A análise do seu currículo Lattes mostra incongruências inaceitáveis aos padrões estabelecidos pela própria CAPES para o funcionamento dos Programas de Pós-Graduação no país, em todas as áreas do conhecimento. Em primeiro lugar, fragorosamente contrária ao requisito mínimo de orientação acadêmica, Cláudia de Toledo coordenou, durante os anos de 1994 a 2000, um programa de pós-graduação anteriormente ao seu doutoramento neste mesmo Programa. Seu doutoramento ocorreu em 2012, no Centro Universitário de Bauru (antiga Instituição Toledo de Ensino) onde Cláudia deixou o cargo de Reitora para assumir a presidência da CAPES e, também, instituição na qual se graduou o atual Ministro da Educação. Portanto, dezoito anos antes de se tornar doutora e poder integrar os programas de pós-graduação, já coordenava o mesmo programa em que veio a cursar seu doutorado. Submetido à avaliação do sistema de pósgraduação da CAPES, este programa obteve conceito dois (2), tornando-se, portanto, descredenciado para continuar titulando pós-graduandos e, após recurso, subiu para quatro (4). Digno de nota é o fato de que o referido programa é o único do Centro Universitário de Bauru e isto evidencia a total falta de tradição de pesquisa nesta IES, aliás, mais um dos pré-requisitos para o funcionamento dos cursos de pós-graduação.
Registramos ainda nossa rejeição para a presidência a ser exercida por Cláudia de Toledo, pelos registros encontrados em seu currículo Lattes, os quais contém atividades que em nada representam as outras atividades historicamente desempenhadas pela CAPES, para além da administração da pós-graduação. Nesses registros não consta nenhuma atividade que se compatibilize com a missão desta Agência de Fomento. A atuação de Cláudia de Toledo na formação de recursos humanos é por demais reduzida e as atividades por ela desempenhadas não mostram articulação com os demais programas financiados pela CAPES.
Neste sentido, a permanência de Cláudia de Toledo configura uma séria ameaça à dignidade do trabalho da pós-graduação e ao trabalho de produção e disseminação de conhecimentos, bem como à formação de recursos humanos realizada por todos os programas de pós-graduação de nosso país. Sua permanência mostra flagrante conflito com o trabalho de milhares de pesquisadores e pesquisadoras brasileiros no esforço de formar futuros mestres e doutores em bases éticas, científicas e profissionais. Representa, portanto, um exemplo contraditório para a juventude brasileira, exemplo este que não pode ser seguido. Esta juventude vê na CAPES uma instituição que lhes possa acenar com um futuro compatível com o projeto de nação e em sintonia com o trabalho indispensável da ciência e tecnologia para alavancar os rumos do país e combater os abismos de desigualdade que marcam nossa sociedade. A liderança máxima desta instituição deve, portanto, ser a primeira a dar exemplo deste caminho a ser seguido.
As associações signatárias desta carta e seus membros (orientadores em programas de pós-graduação), mesmo críticos à um sistema de avaliação que aprofundou uma visão e uma prática de ciência produtivista, há décadas, vem trabalhando à exaustão para atender parâmetros de qualidade prescritos pela CAPES e, buscando aprimorá-los, rejeitam a nomeação de Cláudia de Toledo. Portanto, estas associações não podem compactuar com a quebra desses padrões, pois rompem com a tradição de pesquisa e ameaçam a sustentabilidade da produção científica brasileira. Por isso, demandam a substituição imediata de Cláudia Toledo da presidência da CAPES.
Porto Alegre, 16 de abril de 2021.
Associação Brasileira de Alfabetização – ABAlf
Associação Brasileira de Currículos – ABdC
Associação Brasileira de Ensino de Biologia – SBEnBio
Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências – ABRAPEC
Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação – Fineduca
Associação Nacional de Políticas e Administração da Educação – ANPAE
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação – ANPED
Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia – ANPOF
Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação – ANFOPE
Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte – CBCE
Centro de Estudos Educação e Sociedade – CEDES
Fórum Nacional de Coordenadores da Área de Ensino Rede Comunica Educação Sociedade Brasileira de Educação Matemática – SBEM
Sociedade Brasileira de Ensino de Química – SBEnQ
Fonte: ANPED