Por Raul Valentim da Silva
Uma universidade abrangente como a UFSC caracteriza-se pela sua diversidade. Nela coexistem múltiplos conteúdos bastante diferenciados e diferentes visões de mundo. Em cada profissão existem objetivos que podem ser conflitantes com os de outras carreiras. Assim, este artigo utiliza uma ótica de áreas predominantemente tecnológicas.
Ingressei como aluno na Escola de Engenharia da UFRGS em 1958 e como professor da UFSC em 1965. Como docente ocupei vários cargos de gestão, tanto em meu Departamento como na Reitoria. Participei ativamente do processo de implantação da pós-graduação. Aposentado na década de 90, passei a atuar na Fundação Certi e depois na FEESC.
Fui um dos fundadores da Apufsc e participei dos processos de filiação à Andes e desfiliação do Andes. Atuei na Estatuinte que promoveu uma abrangente análise estrutural e funcional da UFSC. Assim, tive o privilégio de acompanhar o desenvolvimento de uma universidade de porte médio que conseguiu projetar-se e ocupar posições de destaque no cenário nacional, com relevância na América Latina.
Nesta alongada vivência acadêmica pude observar um extraordinário desenvolvimento do sistema universitário brasileiro. Hoje existem profissionais devidamente habilitados a preencher os postos de magistério, especialmente capacitados para a realização de pesquisas. O sucesso na implantação da pós-graduação foi o principal responsável por este resultado auspicioso.
No entanto, a pesquisa é apenas um dos quatro pilares que devem sustentar as boas universidades. A gestão universitária continua sendo um ponto fraco destas instituições brasileiras. Um reposicionamento dos servidores técnico-administrativos e um esforço de organização e implantação de sistemas de gestão que assegurem maior eficácia institucional precisam ser empreendidos com a devida urgência em todas as instâncias.
O ensino de graduação também merece cuidados adicionais visando em especial uma formação profissional mais adequada às reais necessidades dos setores produtivos brasileiros. A curricularização dos cursos de graduação e as novas diretrizes curriculares das engenharias podem ser mecanismos apropriados para uma maior interação entre o sistema acadêmico e o ambiente profissional. A chegada dos nativos digitais deve promover modificações no ambiente universitário das graduações.
As maiores dificuldades situam-se no pilar da extensão, com desdobramentos no ensino de graduação e de pós-graduação. As universidades precisam captar informações relevantes sobre as reais necessidades da sociedade. A pesquisa muito associada com a pós-graduação deve ter como temas preponderantes, em mais áreas aplicadas como as tecnológicas, tais necessidades.
É urgente tornar mais disponíveis, especialmente através das comunicações modernas, os conhecimentos existentes na comunidade universitária. O acesso a informações úteis disponíveis em revistas e livros também merece atenção. O problema da carência de conhecimentos em língua portuguesa deve ser bem considerado pelas universidades, principalmente as públicas.
O sistema de avaliação dos cursos de pós-graduação, com total ênfase em publicações e citações em revistas internacionais acaba gerando distorções na geração e na divulgação de conhecimentos científicos, em áreas como as engenharias. As modificações nos critérios destas avaliações que estão sendo implantados podem corrigir tais distorções.
A indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão precisa de um melhor entendimento e utilização. A interdisciplinaridade também merece maior atenção tendo em vista especialmente suas imensas potencialidades nas universidades. O envolvimento de ex-alunos e de professores aposentados também pode proporcionar significativos avanços na eficácia universitária.
Os modernos processos, predominantemente tecnológicos, coletivamente denominados de Indústria 4.0 devem nortear avanços nas interações com sistemas produtivos. Temas como Inteligência Artificial, Ciência de Dados, Realidades Aumentada e Virtual, Internet das Coisas, Tecnologias Blockchain, Armazenamento e Computação em Nuvem, Redes 5G, Big Data e Segurança Digital devem ser devidamente inseridos nos currículos das respectivas áreas de conhecimento e nos projetos de pesquisa visando sua efetiva utilização no contexto da realidade produtiva brasileira.
* Professor aposentado do Centro Tecnológico da UFSC