Estadão reuniu depoimentos de estudantes que não fizeram a prova
Realizado em meio à segunda onda da covid-19, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nunca teve tão pouca participação desde que a prova se tornou, em 2009, a principal porta de entrada para o ensino superior. Mais de 2,8 milhões de inscritos deixaram de fazer o exame no último domingo. O número, gigantesco, revela histórias de desalento de Norte a Sul, em um país que tem fracassado na gestão da Saúde e da Educação na pandemia.
Rostos pretos, brancos, molhados de suor ou de lágrimas são a cara da abstenção do Enem. Os ausentes no exame são jovens como o Ruan, de 22 anos, que trabalhava como motoboy no Rio enquanto outros da mesma idade faziam a prova. Ou têm história parecida com a da Larissa, de Belford Roxo (RJ), que perdeu a paz depois de enterrar a tia, infectada com a covid-19, e agora vê os avós no hospital.
Muitos tiveram medo de se contaminar, caso da Manuela, de Juiz de Fora (MG), ou não puderam ir porque já estavam doentes, como o Danilo, de Parauapebas (PA), a cerca de 530 quilômetros de Belém. E teve até quem tentou fazer a prova, mesmo com medo, percorreu quase duas horas em um ônibus, mas encontrou as salas lotadas e acabou impedido de entrar – história do Tiago, em Curitiba.
A segurança do exame, em meio à pandemia, foi questionada na Justiça, mas o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do Ministério da Educação (MEC), conseguiu manter as datas da prova. Após o 1º dia de aplicação, a Defensoria Pública da União (DPU) fez novo pedido para que as provas do próximo domingo sejam adiadas e para que o exame seja reaplicado a todos os ausentes, mas a solicitação foi novamente negada.
No último domingo, 17, o ministro Milton Ribeiro afirmou que o Enem “foi um sucesso”, mesmo com índice de abstenção nunca visto. “Para os alunos que puderam fazer a prova, foi um sucesso”, disse. Já Priscila Cruz, do Todos pela Educação, classifica o último domingo como um fracasso. “O Enem é mais um triste episódio de um Ministério da Educação incompetente, omisso e alheio à realidade da educação, dos estudantes e da pandemia no Brasil.” O Estadão ouviu cinco jovens que deixaram de fazer a prova no último domingo.