Em entrevista sobre o assunto, a psicóloga hospitalar do HU, Andrea Thaís Xavier Rodríguez Hurtado, fala sobre alguns aspectos e a importância da ação no contexto de pandemia
O mês de janeiro, que é associado ao recomeço e à esperança de dias melhores, é dedicado à reflexão sobre a importância de uma cultura que valorize a saúde mental e emocional. Trata-se da campanha do Janeiro Branco, criada desde 2014 por um psicólogo brasileiro e que hoje é lembrada por profissionais de Psicologia de várias partes do mundo.
A psicóloga hospitalar do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago (HU-UFSC/Ebserh), Andrea Thaís Xavier Rodríguez Hurtado, disse que a adesão de profissionais em vários países (Japão, Portugal, a cidade de Boston nos EUA e Luanda na Angola) revela o alcance dessa campanha).
“A campanha inspira pessoas e instituições a promover a saúde mental e combater o adoecimento emocional através de um diálogo mais acessível e acolhedor considerando as subjetividades do ser humano em diversas áreas: mentais, sentimentais, emocionais, relacionais e comportamentais”, afirmou, em entrevista sobre o assunto.
Andrea Hurtado acrescentou, na entrevista, que, com a pandemia, o Janeiro Branco ganha ainda mais importância. “No contexto de pandemia, o isolamento social forçou uma nova percepção acerca dos próprios limites, dos pensamentos, dos desejos, dos medos e dos relacionamentos”.
Segundo ela, para manter a saúde mental, é importante incentivar a prática de exercícios físicos, atividades de lazer (em segurança e respeitando os protocolos sanitários para prevenção da Covid-19), aproximação dos vínculos sociais e familiares que contribuem para a melhora do humor (podendo ser virtual) e a busca por serviços e profissionais de saúde mental (psicólogos e psiquiatras).
Nesta entrevista, a profissional do HU-UFSC fala sobre alguns aspectos da campanha e dá dicas de como desenvolver a cultura de saúde mental e emocional e, ainda, como lidar com pessoas que eventualmente estejam passando por problemas nesta área.
Quando foi criada esta campanha?
O Janeiro Branco surgiu em 2014, na cidade de Uberlândia, tendo o psicólogo Leonardo Abrahão como idealizador ao perceber a necessidade de um pacto – incluindo políticas públicas – que evidencie a saúde mental e emocional da população assim como a psicoeducação das pessoas sobre o que é saúde mental. De acordo com a informação do site oficial do Janeiro Branco, essa campanha é “gratuita, democrática, horizontal, espontânea, desburocratizada, descentralizada, social, solidária, voluntária, inclusiva, laica, humanista, apartidária, multidisciplinar, transdisciplinar, colaborativa e caracterizada pela pluralidade e diversidade de temas, direta ou indiretamente, ligados aos universos da Saúde Mental e Emocional dos seres humanos e suas instituições.”
Qual é a mensagem do Janeiro Branco?
A Campanha aproveita a simbologia de recomeço experienciado pela virada do ano e as expectativas de mudança do mês de janeiro para inspirar a reflexão sobre a importância da saúde mental e emocional. Assim, o objetivo principal da campanha é a construção de uma cultura da saúde mental e emocional a nível mundial, inspirando pessoas e instituições a promover a saúde mental e combater o adoecimento emocional através de um diálogo mais acessível e acolhedor considerando as subjetividades do ser humano em diversas áreas: mentais, sentimentais, emocionais, relacionais e comportamentais, além de discutir os diversos tipos de violência, a prevenção de transtornos mentais e, atualmente, o contexto de pandemia e o isolamento social.
Em algumas campanhas as pessoas são orientadas a fazer exames, ou a se conscientizarem sobre um tema, no caso do Janeiro Branco, qual é o engajamento esperado das pessoas?
O objetivo da Campanha do Janeiro Branco é o fortalecimento da cultura de saúde mental e emocional. Então, o convite feito é a reflexão acerca da sua própria vida, dos seus relacionamentos, do seu estilo de vida e também o impacto das suas atitudes na vida e na saúde mental das outras pessoas do seu convívio e do seu ambiente. Outro engajamento esperado é a participação ativa da população (não apenas os profissionais de saúde mental) para chamar a atenção da mídia, das instituições sociais e entidades para a elaboração de Políticas Públicas que facilitem o acesso aos serviços de Saúde Mental desde a atenção básica até a alta complexidade na esfera pública e privada.
Como manter a saúde mental em época de pandemia?
A palavra-chave para a saúde mental e emocional é autoconhecimento. Buscando o autoconhecimento, é possível fazer uma reflexão mais completa e coerente a respeito de quais pensamentos, emoções, sentimentos, relacionamentos, hábitos e atitudes podem fortalecer ou enfraquecer a saúde física e mental. No contexto de pandemia, o isolamento social forçou uma nova percepção acerca dos próprios limites, dos pensamentos, dos desejos, dos medos e dos relacionamentos. Para manter a saúde mental, é importante incentivar a prática de exercícios físicos, atividades de lazer (em segurança e respeitando os protocolos sanitários para prevenção da Covid-19), aproximação dos vínculos sociais e familiares que contribuem para a melhora do humor (podendo ser virtual) e a busca por serviços e profissionais de saúde mental (psicólogos e psiquiatras).
Como ajudar uma pessoa que está em crise emocional?
Depende da crise emocional. Eu diria que a primeira coisa em uma crise emocional é se mostrar disponível para acolher e ouvir essa pessoa, respeitando sua subjetividade e evitando falas como: “Isso é besteira”, “Você tem tudo, por que está assim?”, “Mas tem gente passando por coisa pior”, “É falta de Deus”, entre outras falas que desvalorizam o sentimento da pessoa, comparam e minimizam seu sofrimento.
Existem serviços públicos nesta área?
Sim, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e o Centro de Valorização da Vida (CVV) são alguns exemplos de serviços públicos que atendem essas demandas. Algumas regiões possuem uma rede de saúde mental na Atenção Básica bem estruturado, inclusive com profissionais de Psicologia na Unidade Básica de Saúde, porém ainda é insuficiente para o aumento da demanda nos últimos anos.
Fonte: Agecom