Governo do estado já decidiu que aulas voltam presencialmente em fevereiro; prefeitura ainda não definiu
A pouco menos de um mês do início do ano letivo, professores da rede pública de São Paulo ameaçam entrar em greve para evitar o retorno presencial às escolas, como indica reportagem da Folha de S. Paulo.
No sindicato dos docentes da rede estadual, a Apeoesp, a posição é de não retorno até que a categoria seja vacinada contra a Covid-19. Já o Sinpeem, que representa os professores do município, condiciona a volta ou à vacina ou à comprovação da segurança de cada unidade escolar.
A gestão do governador João Doria (PSDB) já definiu que a volta às aulas será no dia 4 de fevereiro e terá obrigatoriamente carga horária presencial, com rodízio de alunos.
Já a administração do prefeito Bruno Covas (PSDB) ainda não definiu se o retorno será presencial ou a distância.
Só na cidade de São Paulo, quase 99% das escolas municipais e 48% das estaduais, que atendem 1,5 milhão de crianças, estão fechadas desde o fim de março.
O fechamento prolongado tem colocado o Brasil na contramão do que ocorre em países da Europa e da Ásia e em diversos estados dos EUA, que reabriram os colégios em algum momento após o início da pandemia.
Nesta semana, o Reino Unido voltou atrás e ordenou o fechamento da maior parte das unidades escolares do país devido à circulação de uma nova e mais transmissível cepa do vírus.
Em novembro, um movimento de pediatras elaborou um manifesto pedindo o retorno às aulas, argumentando que as crianças não são tão transmissoras do vírus como se pensava no início da pandemia e que os riscos de infecção para elas e para a comunidade escolar são muito baixos se forem respeitados os protocolos de segurança.
Para garantir o retorno na rede estadual paulista, a Secretaria da Educação decidiu abrir concursos para professores temporários atuarem na sala de aula, já que os profissionais efetivos que apresentarem atestado médico permanecerão em casa.
Na terça-feira (5), a Apeoesp anunciou ação judicial contra a seleção e promete greve caso seja mantida a decisão do retorno presencial no dia 4.
A presidente do sindicato, deputada estadual Professora Bebel (PT), diz que só aceita a volta após a vacinação contra o novo coronavírus, e de forma gradual.
“É volta gradativa depois da vacina, porque não se sabe ainda tudo da vacina, temos que esperar para ver a eficácia”, diz. Ela reconhece as dificuldades decorrentes do ensino a distância, mas afirma que, neste momento, é preciso priorizar a saúde. “É a vida acima de tudo, depois a gente vê o resto”, afirma.
Bebel critica também a não prioridade aos professores na imunização. “Nos colocaram na posição de essenciais, mas não querem nos priorizar na vacina.”
Secretário estadual da Educação, Rossieli Soares diz que o governo recorrerá à Justiça em caso de greve.
Ele afirma que o retorno presencial é inadiável devido às lacunas de aprendizagem e à profusão de casos de depressão e ansiedade entre os alunos.
“Crianças em fase de alfabetização não consolidaram conhecimentos do ano anterior e estão retrocedendo. Isso sem falar na aprendizagem de novos conteúdos em todas as faixas etárias, a despeito do enorme esforço que as escolas têm feito para manter o ensino a distância”, diz.
Segundo Soares, a rede está dotada de equipamentos de proteção individual e materiais de higiene, e 4.600 escolas reformaram seus banheiros com verba encaminhada no ano passado.
Presidente do Sinpeem, que representa os professores da rede municipal, Claudio Fonseca condiciona a volta presencial à apresentação de informações detalhadas sobre as condições sanitárias de cada unidade escolar.
Ele defende ainda que a reabertura não ocorra até o final da primeira etapa de vacinação, que iria até o meio de fevereiro.
Fonseca diz ver com cautela a possibilidade de uma greve, mas não descarta essa opção se não forem cumpridas as condições elencadas por ele.
“Eu tomo cuidado ao falar disso, porque não quero fazer nada que transpareça para a população que professor é contra a educação básica presencial. Não tem ninguém que defenda mais a educação básica presencial do que o professor. Agora, se expuserem os alunos, as famílias e os profissionais de educação, não temos como voltar.”
Procurada, a prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Educação, declarou que que a autorização para retorno presencial depende da área da saúde do município.
Fonte: Folha de S. Paulo