Eduardo Meditsch
Se o Inep não tiver o bom senso e o Judiciário não fizer nada para adiar novamente as datas das provas presenciais do Enem – até agora confirmadas para 17 e 24 de janeiro – elas serão realizadas no pior momento da pandemia, principalmente em Florianópolis e no litoral do estado, onde estaremos sentindo os efeitos das aglomerações de fim de ano e da chegada dos turistas de verão.
Será nesta situação de calamidade pública e emergência sanitária que os candidatos a uma vaga na UFSC em 2021 serão chamados a se aglomerar mascarados para decidir sua sorte nos 30% de vagas reservadas ao Sisu. Não bastasse o stress multiplicado por esta situação de desconforto e risco – uma eventual contaminação na primeira prova pode excluir o candidato na segunda – esta será a única oportunidade de ingresso dada pela UFSC para quem está concluindo o ensino médio agora. Mas, para quem o concluiu nos anos anteriores, a entrada na universidade poderá ser garantida sem ter que passar por isso.
Como se não bastasse, os formandos do ensino médio de 2020 foram colocados duplamente em desvantagem, pela decisão do CUn, na disputa pelas outros 70% das vagas da Universidade no primeiro semestre de 2021. Para 30% dessas (21% do total), foram barrados antes mesmo da inscrição: estas vagas foram reservadas para quem prestou o vestibular da UFSC nos anos passados. Para as demais 70% (49% do total), a desigualdade está no que é considerado na competição: enquanto os formandos de agora só terão a nota do Enem da pandemia para ser levada em consideração, os que concluíram nos anos anteriores poderão escolher suas melhores notas dos vários anos em que concorreram.
Os formandos do ensino médio de 2020 já tinham uma enorme desvantagem para obter boas notas no Enem, em relação aos que o concluíram antes da pandemia: não tiveram aulas presenciais neste ano para se preparar para o exame. Para a maioria deles, que não teve boas condições para acompanhar o ensino emergencial à distância, as regras aprovadas agora no CUn são uma pá de cal na esperança de ingressar na UFSC em 2021. E mesmo para os que tiveram essas condições, o desafio dobrou de tamanho com as regras desiguais de competição, que afetam tanto a disputa das vagas para cotistas quanto a das de concorrência geral.
Professor Aposentado do Departamento de Jornalismo