Turmas na conclusão do ensino médio também enfrentam desafio da preparação para vestibular em meio à pandemia
Estudantes e profissionais da educação de parte do ensino fundamental e médio voltaram às aulas presenciais nesta quinta-feira (1º), como autoriza decreto estadual, após quase sete meses de suspensão das atividades em meio à pandemia do novo coronavírus. A expectativa é de aumento no rendimento escolar e desenvolvimento das habilidades emocionais, como relata a comunidade escolar.
Em 44 municípios que formam a macrorregião de Fortaleza, as aulas presenciais do ensino infantil, com 50% da capacidade, e as turmas no 1º, 2º e 9º ano do ensino fundamental e a 3ª série do ensino médio, com 35%, estão liberadas. No setor privado, a ampliação das séries recebe alunos já nesta quinta-feira (1º).
As atividades foram suspensas por volta do dia 18 de março após a confirmação dos primeiros casos do novo coronavírus no Ceará. Entre os estudantes, são 5.045 casos de infecção, 4.767 pacientes recuperados e dois óbitos pela doença até o dia 27 de setembro, conforme a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).
As creches haviam sido liberadas, com 35% da capacidade, no dia 1º de setembro e tiveram a capacidade aumentada para metade dos estudantes matriculados. Um terço das instituições privadas devem recomeçar as atividades presenciais nesta quinta-feira, de acordo com o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará (Sinepe). Não foi informada a quantidade de escolas participantes desse retorno.
O estudante do Colégio Master, André Diogo Firmino dos Santos, de 18 anos, deve participar desse primeiro dia na volta das atividades presenciais quase no fim do preparo para o vestibular no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), que deve acontecer no dia 22 de novembro. “Quando chegou a pandemia, foi um baque porque a maioria dos alunos tinha uma rotina bem definida de estudos. O próprio colégio se adaptou bem rápido, usando plataformas e simulados online, então a gente se acostumou”, lembra.
André busca uma vaga no curso de Engenharia da Computação e analisa que a flexibilização dos horários e o envio de materiais de apoio pelos professores foi relevante para manter a boa qualidade do aprendizado. “Eu estava esperando bastante por isso porque, querendo ou não, sem o contato as vezes cansa e eu queria ver meus amigos, saber como eles estão. Foi uma época complicada para todo mundo, então eu queria saber como eles estão se sentindo”, acrescenta o estudante.
Desejo compartilhado pelo estudante Heytor Grangeiro, de 17 anos, que estuda no Colégio 7 de Setembro e avalia aspectos positivos, como tempo livre, e contras, como distração, durante o ensino remoto. “Tô ansioso pelo retorno há muito tempo porque sou uma pessoa muito social, não consigo ficar em casa sem falar com ninguém. Só de estar lá, ter o convívio do colégio e voltar ao ambiente social, eu acredito que vai melhorar minha rotina de estudos”, destaca. “Antes eu passava o dia todo na escola e não tinha descanso. Em casa é mais flexível, se o dia é muito estressante pelos conteúdos, eu posso tocar violão nos intervalos de aulas para descansar a mente”, pondera o estudante.
Nos estudos para conquistar uma vaga no curso de Medicina, Heytor acompanha a irmã pequena e a mãe, estudante do ensino superior, também no ensino remoto. Ele espera, no retorno, intensificar o aprendizado e compartilhar informações com os colegas de classe ainda que com as restrições de distanciamento para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que deve acontecer nos dias 17 e 24 de janeiro do próximo ano.
“Já que o Enem foi adiado vamos ter mais tempo para revisar, cerca de três meses, fazer questões para reforçar esse estudo. Em casa você perde alguns momentos do dia, por causa da desconcentração e eu acredito que essa volta vai melhorar a eficiência e me ajudar na preparação”, conclui Heytor Grangeiro.
Mudança no ambiente
Ana Clara Araújo de Albuquerque, de 17 anos, observa que no início da pandemia, o ritmo de estudo teve uma elevação por não exigir esforço com deslocamento, “mas, depois ficou muito monótono”, como pondera. As aulas presenciais do 3º ano do ensino médio no Ari de Sá, onde estuda, devem retomar na próxima segunda-feira (5).
A estimativa feita no grupo de alunos, é que dos 55 estudantes da turma, 70% irão voltar às aulas presenciais. Isto, divididos em um rodízio no qual metade terá aula presencial em uma semana enquanto a outra parte segue acompanhando à distância. Na semana seguinte, os grupos são invertidos.
“Reinventar-se após a reinvenção”
Luciana Bem, psicopedagoga e presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, seção do Ceará, analisa que o retorno às aulas presenciais deve considerar o apoio aos alunos, aos pais e aos professores. “Uma demanda pedagógica que certamente precisará de um olhar cuidadoso”, ressalta.
Luciana destaca que o ritmo dos alunos foi diferente e com o ensino presencial poderá ficar evidente “aqueles que tiveram dificuldades de se adaptar e não tiveram uma evolução pedagógica. É como se eles tivessem acompanhando o sistema, mas sem ter um aproveitamento como deveria”, diz. “Os alunos estão desejosos de estar no contexto coletivo com seus pares. Mas muitas vezes não estão em sintonia com a turma. Para os professores é um desafio que continua. É o reinventar-se após a reinvenção. Eles vão precisar adaptar o planejamento de acordo a realidade que vão encontrar”.
Esforço conjunto, como avalia a especialista, para adaptação às novas demandas que estão surgindo e que, “nesse momento, todo mundo está precisando de amparo, de um olhar mais sensível”, conclui Luciana Bem.
Leia na íntegra: G1