Segundo levantamento, 61% dos docentes dizem ter aprendido sozinhos a usar as ferramentas tecnológicas
Mais de seis meses após o fechamento das escolas e a suspensão das aulas presenciais devido à pandemia do novo coronavírus, quase metade dos professores diz não saber avaliar se os alunos estão realmente aprendendo por meio das aulas on-line.
É o que aponta uma pesquisa realizada pelo Instituto Crescer com 528 professores de educação básica e do ensino superior que atuam em instituições públicas e privadas de ensino. Perguntados sobre como tem sido a experiência de educação remota, 46% dos docentes participantes escolheram a opção “diferente, mas ainda não consigo avaliar se os estudantes realmente estão aprendendo”.
A pesquisa foi realizada por meio de um formulário virtual entre os dias 1º e 17 de setembro. Ainda em relação à experiência de educação remota, outros 46% dos docentes participantes optaram por marcar a alternativa “interessante, descobri que há bons recursos que têm colaborado com o processo de aprendizagem dos estudantes”.
Já 8% escolheram a opção “frustrante, tenho tido pouco sucesso no resultado de aprendizagem dos estudantes com as estratégias de ensino que tenho desenhado”. Os dados mostram ainda que 87% dos professores estão usando recursos tecnológicos diariamente para realizar atividades remotas com os estudantes.
A maior parte dos docentes (61%) diz ter aprendido sozinho a utilizar os recursos tecnológicos necessários para as atividades virtuais. Outros 54% afirmam ter aprendido com colegas professores e 42% dizem ter aprendido por meio de programas de formação institucional. Para esta questão, era possível escolher mais de uma resposta.
Luciana Allan, diretora do Instituto Crescer, diz que os professores estão fazendo um esforço “tremendo” para conseguirem se adequar aos novos modelos de ensino e aprendizagem, mas pontua que a falta de perspectiva para o que pode acontecer nos próximos meses é motivo para preocupação.
“Eles já estão conseguindo redesenhar suas aulas, estão conseguindo usar tecnologias, estão pensando em novas propostas de avaliação, mas tudo isso é um processo muito inicial”, afirma.
“Para que isso realmente se efetive e se reverta em oportunidades de aprendizagem significativa, é necessário um investimento na formação dessas pessoas e o desenho de um planejamento estratégico que nos ajude a avançar nesse processo de forma mais estruturada.”
Para Luciana, é importante “entender” a situação e o momento em que os professores estão para então explorar de melhor forma os recursos tecnológicos para as práticas pedagógicas, inclusive por meio de novas propostas de avaliação. Ela cita iniciativas como a criação de portfólios e o acompanhamento de cada etapa do processo de produção dos alunos por meio de um espaço virtual compartilhado.
“Mas são outras formas de trabalhar, e tudo isso exige formação. É preciso fazer com que esses professores consigam se desenvolver de forma mais estruturada e não deixar que cada um continue carreira solo”, afirma.
Conquistas e frustrações
Para 41% dos professores, a maior conquista deste momento de pandemia foi ter se descoberto capaz de aprender e utilizar recursos digitais para fins pedagógicos.
Por outro lado, a maior frustração para 57% deles foi ter descoberto que, por maior que seja o empenho, poucos alunos aproveitam os conteúdos por falta de infraestrutura.
Perguntados sobre os tipos de recursos que têm utilizado, os professores indicaram fazer um uso misto de diferentes ferramentas. Enquanto 52% afirmaram usar plataformas para gestão de espaços virtuais (como Moodle, Google Classroom e Teams), 46% disseram produzir as próprias videoaulas e 43% afirmaram fazer uso de plataformas de videoconferência.
Outros 43% disseram usar videoaulas produzidas por outros educadores, mesmo percentual que aparece para aqueles que afirmaram fazer uso de apresentação de slides. Os formulários de avaliação aparecem na rotina de 39% dos docentes entrevistados. Para este questionamento, os professores podiam escolher mais de uma resposta.
O levantamento mostra ainda que apenas 8% dos docentes buscam manter as atividades previstas para a sala de aula no ambiente digital, reproduzindo esses mesmos conteúdos nos espaços virtuais. Quase metade dos professores (48%) busca redesenhar totalmente as atividades e 44% dizem fazer pequenos ajustes para que elas se adequem melhor ao formato virtual.
Fonte: UOL