Ferramentas já estão em fase de teste, mas ainda dependem de aprovação para serem implementadas
A pandemia e o ensino remoto aceleraram as negociações entre a UFSC e grandes empresas de tecnologia, como Google e Microsoft, para adoção de novas ferramentas de aprendizagem e de comunicação na universidade. Nesta semana, servidores e alunos da UFSC já começaram a ter acesso, ainda em fase de testes, a programas como o Office 365, da Microsoft, e ao Google Meet, do Google. As ferramentas são disponibilizadas gratuitamente pelas empresas.
A UFSC estuda também a adoção do G Suite para Educação, plataforma de educação do Google que reúne ferramentas de aprendizagem, comunicação, armazenagem, além de outros serviços.
Essas soluções alternativas às plataformas da UFSC já estavam em discussão antes da pandemia, mas com o aumento da demanda precisaram ser aceleradas, afirma Fernando Richartz, Secretário de Planejamento e Orçamento da UFSC (Seplan). Antes que o contrato de parceria seja assinado, está programada uma reunião, no início da próxima semana, do Comitê de Governança Tecnológica da UFSC.
O comitê, presidido por Richartz, foi criado em maio deste ano e é formado pelos diretores dos centros de ensino. O grupo é responsável por avaliar a migração de mais serviços para os produtos Google, como ferramentas de nuvem, videoconferência profissional, desenvolvimento, e-mail, entre outros. “Dependemos da aprovação do Comitê. Por isso, a integração não é automática ainda. E-mails, por exemplo, não estão habilitados, nem de forma opcional. Não migramos nada da UFSC para a Google, por enquanto.”
Atualmente, a UFSC adota uma série de serviços tecnológicos que são desenvolvidos por terceiros, mas gerenciados dentro da infraestrutura da universidade. As ferramentas incluem serviço de e-mails institucionais, mensagens rápidas e chamada de vídeo via browser e celular, por exemplo. Elas são gratuitas e de código aberto, que dependem somente do custo de manutenção e do custo comum de armazenamento, processamento e recursos humanos.
De um universo de 65 universidades federais, 39 têm o Google como provedor de e-mail e outras três (UnB, UFABC e UFPR), a Microsoft. O mapeamento foi feito pela Educação Vigiada, iniciativa de acadêmicos que visa a alertar sobre as implicações do uso de plataformas privadas na educação pública brasileira.
Em julho, preocupados com o avanço dessas parcerias em meio à pandemia, um grupo de pesquisadores enviou uma carta-proposta às instituições públicas de ensino. O documento alerta que os serviços têm um custo implícito, apesar de serem oferecidos de forma gratuita às universidades e, consequentemente, aos membros da comunidade acadêmica.
Para o professor do Departamento de Tecnologias da Informação e Comunicação (campus Araranguá) e um dos remetentes da carta-proposta, Vinicius Faria Culmant Ramos, uma das questões-chave é a privacidade dos dados e a autonomia universitária, uma vez que, logado no serviço, todo o comportamento do usuário poderá ser transformado em dados que posteriormente serão convertidos em informação. A monetização dos dados, segundo ele, pode ocorrer de diversas formas. “Desde o processamento dos seus e-mails para apresentar publicidade, o uso dos nossos dados de pesquisa — que podem ser sigilosos, ou até estratégicos no avanço da tecnologia do país — até um estado de vigilância constante sobre o que estamos fazendo”.
O secretário Fernando Richartz assegura que “todos os aspectos que envolvem a segurança da informação são tratados no Comitê de Governança Tecnológica da UFSC, que foi criado justamente para não ter qualquer decisão dessa natureza sem discussão ampla”.
Richartz garante também que os serviços da Google, por exemplo, seriam adicionais aos já existentes na UFSC. Caso aprovada, a adesão à plataforma será voluntária. “O que nos preocupa hoje é ter somente as soluções internas. A ideia de ter parcerias é abrir possibilidades para quem deseja, ou precisa. Ninguém será obrigado a depositar informações no Google Drive, por exemplo, ou no OneDrive, mas, se estiver a disposição, várias pessoas vão utilizar desse serviço. Então, quanto a segurança, podemos ficar tranquilos”, afirma.
Leia mais na reportagem: Pesquisadores alertam para riscos de parcerias gratuitas entre universidades públicas e empresas de tecnologia
Ilana Cardial e Karina Ferreira