Discurso de posse de Milton Ribeiro dá sinais de que ele sabe conviver com a diversidade de opiniões
Desde que foi anunciado como novo ministro da Educação, na semana passada, Milton Ribeiro tem sido bastante comedido nas palavras. Não deu entrevistas, evitou polêmicas, e fez algumas poucas declarações genéricas, em tom conciliatório, em redes sociais. Seu breve discurso de posse hoje seguiu a mesma linha, um indicativo de mudança de postura em relação aos seus antecessores. Para início de um mandato, pode ser uma estratégia eficaz, mas ele em breve precisará se posicionar em relação a temas que não são consensuais no campo educacional.
Na linha conciliadora, Ribeiro afirmou que não se pode desmerecer que grandes educadores deram no passado “legítimas e valiosas contribuições” e, diante do temor de que suas convicções religiosas o façam atropelar o princípio constitucional da separação entre Igreja e Estado, afirmou que seu compromisso está “bem firmado e localizado em valores constitucionais da laicidade do Estado e do ensino público”.
O novo ministro fez questão de citar com deferência a professora da Faculdade de Educação da USP Roseli Fischmann, sua orientadora no doutorado e uma das maiores especialistas e defensoras do ensino público laico. A citação a Fischmann pode ser um sinal positivo de que o novo ministro saiba conviver com a diversidade de opiniões. Em artigos escritos no jornal “O Estado de S. Paulo”, a educadora se posicionou em 2012 em favor do “enfrentamento da discriminação por sexo e gênero na escola”. Em 2011, no mesmo jornal, criticou duramente o então deputado Jair Bolsonaro por declarações consideradas racistas.
O discurso de Ribeiro, porém, deixa claro que seu posicionamento é conservador. É absolutamente legítimo e surpresa seria, em se tratando do governo Bolsonaro, que não fosse. Tanto o novo ministro quanto o presidente, ao se referirem à educação que receberam no passado, fizeram questão de criticar, em suas palavras, políticas e filosofias educacionais equivocadas que “descontruíram a autoridade do professor em sala de aula”.
Cenas de professores desrespeitados por atos absurdos de indisciplina de alunos de fato merecem repulsa. O risco é esse discurso vir junto de um saudosismo com a educação do passado, desconsiderando que a escola pública do período em que Ribeiro e Bolsonaro foram alunos reprovava mais da metade das crianças no primeiro ano e excluía boa parte delas do sistema de ensino.
Fonte: O Globo