Grupo de pesquisadores alerta que insuficiência de testes e falta de transparência comprometem combate à pandemia da Covid-19 no país
Nenhum estado brasileiro alcançou a taxa de positividade em testes para o novo coronavírus recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos critérios seguros para afrouxamento das medidas de isolamento social. A insuficiência de testagem, problema crônico na evolução da doença no país, e a falta de estratégias detalhadas comprometem o combate à Covid-19 e expõem a população, indica estudo da Rede de Pesquisa Solidária, formada por mais de 50 pesquisadores brasileiros que monitoram os dados da pandemia.
Os especialistas analisaram dados e boletins oficiais dos estados sobre testagem até o dia 20 de junho. A média de positividade dos testes no país, indicam, foi de 36% no mês. A OMS recomenda que as autoridades de saúde só flexibilizem ações de distanciamento social quando essa taxa for de 5%, e se mantiver estável durante duas semanas, pelo menos. Na prática, isso quer dizer que, de cada cem exames realizados, apenas cinco tenham resultado positivo, durante 14 dias, em média.
No período analisado pelos pesquisadores, esse índice chegou a 51% em estados como São Paulo – positividade mais alta que a média do país. E passou de 100% em Minas Gerais, por exemplo, onde foram anunciados mais casos novos do que o número de testes realizados no mesmo período.
Somente nove estados apresentaram uma taxa de positividade inferior a 20% na primeira semana de junho. E, até o dia 20, indica o estudo, a testagem com resultados positivos era alta em todos os estados.
— Entre os 20 países com maior taxa de óbito no mundo, somos o que menos testa. Ainda há muita subnotificação, é um problema crônico — diz Tatiane Moraes de Sousa, pesquisadora da Fiocruz e uma das responsáveis pelo estudo.
Ela explica que a OMS e a Universidade Johns Hopkins adotam como referência que países com taxa de positividade muito alta provavelmente só estão testando quem já está doente. Isso mostra que a estratégia brasileira, afirma, continua sendo a de testar as pessoas no limite de quem está grave ou já dentro do serviço de saúde, sintomático.
— Nenhum estado brasileiro atende o que a OMS orientou como taxa recomendada de positividade. Para ter essa taxa de 5%, seria preciso aumentar muito o número de testes realizados. E isso acontece expandindo a testagem, não testando só as pessoas que já estão dentro do serviço de saúde — afirma.
Segundo os pesquisadores, grande parte dos estados brasileiros torna público apenas o total de testes, sem classificação por tipo – a eficácia varia de acordo com o teste realizado. Oito estados, entre eles São Paulo e Rio, não apresentam nenhuma informação sobre os testes realizados em suas plataformas oficiais, destacam os especialistas.
E apenas 14 estados prestam contas do número de testes chamados RT-PCR, que identificam o vírus na fase ativa da doença, e do número de testes sorológicos, que apontam as pessoas que já tiveram contato com o vírus e possuem anticorpos.
Leia na íntegra: O Globo