Novo ministro afirmou ter títulos de pós-graduação inexistentes
A revelação de uma série de inconsistências em seu currículo acadêmico colocou o recém-nomeado ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, em uma situação delicada. Interlocutores do presidente Jair Bolsonaro ouvidos pelo Valor confirmam que ele retomou a análise de possíveis titulares para a pasta e poderá trocar novamente o comando do MEC. A posse de Decotelli, que estava marcada para hoje, foi suspensa por tempo indeterminado, até que o presidente tome uma decisão.
Em entrevista coletiva, Decotelli encerrou o dia afirmando: “Sou ministro”. Cerca de uma hora depois, no entanto, o presidente reafirmou nas redes sociais sua crença de que ele está capacitado para o cargo, mas não confirmou a data da solenidade de posse. “Desde quando anunciei o nome do Professor Decotelli para o Ministério da Educação só recebi mensagens de trabalho e honradez. Por inadequações curriculares o professor vem enfrentando todas as formas de deslegitimação para o Ministério”, escreveu o presidente. “O Sr. Decotelli não pretende ser um problema para a sua pasta (Governo), bem como, está ciente de seu equívoco. Todos aqueles que conviveram com ele comprovam sua capacidade para construir uma Educação inclusiva”.
Oficial da Marinha da reserva e professor na área de finanças e gestão, Decotelli chegou ao cargo apoiado por ministros e oficiais militares de alta patente. Ele havia comandado o Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE) no governo e contribuído no período de transição, em 2018. O nome foi apontado como alternativa técnica e de perfil discreto, se opondo aos ex-titulares da pasta Abraham Weintraub e Ricardo Vélez.
Ambos faziam parte da ala ideológica, que agora volta a ter esperança de recuperar a pasta. O ministério também é cobiçado pelos parlamentares do Centrão. A revelação de que o novo ministro não concluiu os cursos de doutorado e pós-doutorado, como informara em seu currículo, criou um constrangimento para o governo. A repercussão irritou o presidente e até mesmo alguns auxiliares que defendiam o nome do professor.
A formação acadêmica de Decotelli foi contestada por duas instituições de ensino. A Universidade de Wuppertal, na Alemanha, negou a obtenção do título de pós-doutorado na instituição, confirmando apenas o envolvimento do ministro em pesquisas presenciais durante período de três meses. “Ele não adquiriu um título em nossa universidade”, afirmou porta-voz da instituição, Katja Bischof. “A Universidade de Wuppertal não pode fazer declarações sobre títulos adquiridos no Brasil”.
Na sexta-feira, a Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, já havia informado que Decotelli concluiu disciplinas, mas sua tese de doutorado foi reprovada. Ao Valor, o reitor da universidade, Franco Bartolacci, disse que Decotelli cometeu “falta muito grave” e disse que a entidade estuda se vai ingressar com alguma ação legal contra o novo ministro.
Chamado ao Planalto para explicar o caso, Decotelli expôs ao presidente seus argumentos sobre as divergências. No fim do dia, falou com jornalistas ao retornar à sede do ministério. Reconheceu que, pelas leis argentinas, não houve registro de defesa de banca, embora possua diploma de créditos concluídos. Disse que Bolsonaro não demonstrara constrangimento, mas que confiava nos projetos para ter um Brasil “equalizado e com oportunidades para todos”, acrescentando que sua filha sofreu quando criança agressões racistas de uma professora. Em relação ao mestrado, disse que não cometeu plágio e pode ter ocorrido “distração” em citações, mas dentro de um percentual permitido à época. Quanto ao pós-doutorado, assegurou, sua pesquisa foi concluída e registrada.
Deputados bolsonaristas e integrantes da ala ideológica, que já estavam insatisfeitos com a perda de espaço, argumentam agora que a permanência poderá ficar insustentável. Nos bastidores, eles têm defendido a indicação do advogado Sérgio Sant’ana, que foi assessor especial do ex-ministro Abraham Weintraub no MEC.
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