“Banco falando de universidade nunca dá certo, nem com sotaque religioso”, diz o professor Luiz Antonio Cunha, da UFRJ
No primeiro dia de seminário na Câmara dos Deputados professores e professoras apresentaram uma série de dados e informações que enfatizam a importância da autonomia das universidades públicas e dos investimentos em educação.
Intitulado “O papel da Universidade Pública no Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia, da Educação e do Conhecimento” , o seminário de dois dias, que começou ontem, continua nesta quarta-feira (30) e terá transmissão ao vivo nas redes sociais do Observatório do Conhecimento.
O presidente da Apufsc-Sindical, Bebeto Marques, e também a vice-presidente, Patrícia Della Mea Plentz, estão entre os participantes dos debates, organizados pelas Comissões de Educação e de Ciência e Tecnologia da Câmara.
No primeiro painel desta terça-feira (29) com o tema “Autonomia, gestão e democracia”, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Luiz Antonio Cunha, falou sobre “os adversários” da autonomia universitária que, segundo ele, são o Estado, o mercado e a religião. “Banco falando de universidade nunca dá certo, nem com sotaque religioso”, diz o professor da UFRJ.
Em seu discurso, Cunha analisou a estrutura das universidades e os diversos modos nos quais se apresentam no mundo. Na avaliação dele, o que une a universidade no tempo e no espaço é sua luta pela autonomia e a possibilidade de produzir e difundir conhecimento, sem restrições ideológicas e dogmáticas.
“Parece que há uma resistência atávica do estado brasileiro em reconhecer a autonomia universitária mesmo quando a lei manda, mesmo estando escrita na Constituição”, enfatiza.
Cunha ressalta ainda que as leis do mercado também ameaçam a autonomia universitária ao colocar o lucro na frente do conhecimento – constrangimento que está na base do projeto Future-se, do atual governo federal.
“Além de submeter ao mercado as finanças e a gestão das universidades federais o projeto mantém e até amplia o controle ministerial. Uma mistura da idealização do modelo norte americano tão valorizado na atual conjuntura”.
Para o professor é um equívoco reduzir a universidade ao mero mecanismo de acumulação de capital físico ou financeiro. Ele analisa que o ensino, a pesquisa, a assistência e a extensão passaram a ser definidos como mercadorias, vendáveis ou não. A valorização deste critério coloca em risco a autonomia universitária, pois os interesses empresariais são distintos dos acadêmicos.
Além de Cunha, participaram do primeiro dia de seminário outros cinco representantes de instituições de ensino e de grupos voltados para a discussão da situação das universidades federais. Nas duas mesas do dia todos os integrantes foram unânimes em criticar fortemente a Emenda Constitucional 95, conhecida como a emenda do teto de gastos, que congela os investimentos em áreas estratégicas, como educação e saúde, comprometendo o futuro do Brasil.
Confira o vídeo completo das mesas I e II desta terça-feira (29):
Diana Koch