Sobre quatro rodas
Embora vivam perto da UFSC, docentes preferem se deslocar de carro para o trabalho
Os professores e professoras da UFSC orbitam em torno da universidade. A pesquisa do Laboratório de Sociologia do Trabalho (Lastro), encomendada pela Apufsc, indica que mais da metade mora em bairros que estão a menos de 10 km do campus, como Trindade, Serrinha, Pantanal, Córrego Grande, Santa Mônica e Itacorubi. Mas, apesar da proximidade, o deslocamento para o trabalho se dá predominantemente de carro: 76% usam veículo próprio.
Para quem mora mais longe, fica ainda mais difícil encontrar alternativa ao carro, já que o transporte público em Florianópolis funciona mal e a cidade é carente de ciclovias. Até o paulistano Gabriel Coutinho Barbosa que, em São Paulo, fazia um esforço para andar apenas de ônibus e de bicicleta, teve de se render ao automóvel desde que se mudou para Florianópolis há nove anos. Professor do Departamento de Antropologia da UFSC, ele escolheu viver no sul da ilha, a 16 km do campus. “Lamento ser tão refém do carro, porque sempre andei de ônibus e de bicicleta mesmo morando em São Paulo e relativamente longe do trabalho”, diz. “Aqui, cheguei a ficar sem carro durante um período e foi muito difícil.”
O professor do Departamento de Ciências da Administração e coordenador do Observatório da Mobilidade Urbana da UFSC, Bernardo Meyer, diz que “estamos reproduzindo dentro da UFSC o que acontece na cidade”. Ele lembra que o Plano de Mobilidade Urbana da Grande Florianópolis (Plamus), projeto do governo estadual que teve participação do Observatório, mostrou que, na capital, 48% dos deslocamentos são feitos com automóvel, sendo que a média nacional nas regiões metropolitanas varia entre 21% e 33%. A baixa qualidade do transporte público, diz Bernardo, está entre os principais motivos, mas a falta de estrutura para bicicletas e ciclistas também colabora com esse índice.
Na UFSC, o Departamento de Projetos de Arquitetura e Engenharia trabalha na elaboração de políticas que melhorem a mobilidade no campus. A meta é concluir um plano de mobilidade até o fim do ano. “Tem muita gente que mora de 5 a 30 minutos da universidade, caminhando, e vem de carro. Por isso, nossa ideia é ver onde está essa comunidade e traçar um plano para incentivar que as pessoas venham a pé, de ônibus e de bicicleta”, diz Camila Poeta, arquiteta do departamento.
A pesquisa do Lastro indica que apenas 8% dos professores utilizam bicicleta para chegar ao trabalho. Alexandre Meyer Luz, de 51 anos, está nesse grupo. Embora reclame da falta de respeito dos motoristas com os ciclistas, o professor do Departamento de Filosofia se desloca diariamente de bicicleta entre o Córrego Grande, onde mora, e a UFSC. “A bike tem a função primária de me dar um tempo extra e facilitar a vida nas pequenas locomoções dentro do campus”, diz. Além de evitar o congestionamento, Alexandre se livra de outra incomodação: disputar uma das 3,2 mil vagas de estacionamento na UFSC. Em alguns horários, é quase impossível estacionar.
O professor do Departamento de Artes, Felipe Soares, de 55 anos, pedala do Campeche até a universidade com frequência e reclama da interrupção de ciclovias no trajeto, dos ciclistas que pedalam na contramão, da falta de bicicletários (existem apenas 924 vagas na UFSC), mas diz que os benefícios superam as dificuldades. “Só saio de carro se eu tiver que levar mais alguém comigo.” As pedaladas diárias são como combustível para a criatividade, diz. “No trajeto, encontro soluções fantásticas e tenho grandes ideias.”
Além do trabalho
Quando não estão no trabalho, professores e professoras da UFSC ocupam seu tempo, primeiro, com afazeres domésticos, tarefas acumuladas, estudos e atividades relacionadas à atuação profissional. Só depois vêm as formas de entretenimento, lideradas pelo lazer em casa. “Com menor alcance, fazemos viagens e passeios, vamos a bares e restaurantes ou confraternizamos com família ou amigos – mas tendemos a não conviver socialmente com colegas da UFSC fora da universidade”, conclui o relatório do Laboratório de Sociologia do Trabalho (Lastro), responsável pela pesquisa. Só um em cada quatro docentes (25%) dedica-se com frequência a atividades artísticas e culturais. E poucos se doam ao voluntariado ou à ação política. No tempo que sobra, praticam atividade física corridas ou caminhadas, musculação ou academia, pilates ou ioga, natação ou ciclismo, assim como variadas combinações entre essas e outras modalidades esportivas. Entre os entrevistados, 47% afirmam praticar exercícios de duas a três vezes por semana. Os aposentados e aposentadas são mais ativos: 60,8% realizam atividades físicas com essa frequência.
A pesquisa também questionou os professores sobre seus hábitos de informação. Os três canais mais frequentes são o WhatsApp, os contatos com amigos e os sites, aplicativos ou portais de jornais ou outro veículo de jornalismo. Redes sociais têm menor alcance entre os ativos: 76% nunca usam Twitter, 74% nunca usam LinkedIn e há taxas elevadas de não-uso também em Instagram e Facebook. Já o WhatsApp é usado diariamente por 74% dos docentes. Entre as mídias convencionais, o menos consumido é o jornal impresso (56% nunca leem), seguido por revistas (41%).
O mapeamento dos veículos que são as principais fontes de notícias dos docentes aponta a relevância da Folha de S. Paulo, principal mídia para 52% dos respondentes. Em seguida vêm organizações ligadas à Rede Globo – o portal G1 e o grupo NSC, ambos com 39% de alcance. A partir daí, há notável pulverização de veículos.
Com que frequência se dedica a essas atividades
Com que frequência utiliza esses canais para se informar