A Biblioteca da Universidade Federal de Santa Catarina entregou na última quarta feira, dia 4, os livros arrecadados pela Campanha “Doe Possibilidades. Doe um livro”, encerrada no dia 30 de maio. As obras foram levadas à Biblioteca da Penitenciária de Florianópolis, para o Projeto Epopéia Literária, que funciona no Terminal de Santo Antonio de Lisboa, e para Wagner de Souza, de 14 anos, que mantém uma biblioteca no bar de seu pai. Foram doados para a Campanha cerca de 1.500 obras em ótimo estado de conservação. Os livros rasgados, com fungos ou riscados serão enviados para reciclagem.
A Penitenciária de Florianópolis foi a primeira a receber a entrega, que iniciou às 9 horas da manhã. Lá, a bibliotecária Rosani Fioravante e a pedagoga Paula Cabral esperavam pelos livros. “Tem gente que pensa: preso tem baixa escolaridade, não vai ler… Mas isso não se aplica aqui. Para alguns, o livro é o único companheiro”, conta Paula. Todos os dias, ela vai de sela em sela com uma cesta de livros, recolhe os já lidos e oferece novos. A “Bibliocesta” é atende os 260 presos em regime fechado. Os outros detentos utilizam uma biblioteca convencional, com aproximadamente 5 mil títulos. “A leitura abre caminhos, principalmente para nós detentos, tanto no campo intelectual, quanto no espiritual ”, comenta o presidiário Wanderley Müler Pickler, que cumpre pena há um ano. O detento Fábio Ricardo Amorim, que costuma ler um livro por dia, explica o porquê do hábito: “é um modo de fugir do ambiente, de me libertar da rotina”, diz.
A segunda parada foi no Terminal de Santo Antônio de Lisboa, onde uma das criadoras do Projeto Epopéia Literária, Ana Claudia Oliveira, recebeu a equipe da Biblioteca. Dentro de um quiosque, aproximadamente 40 obras ficam à disposição dos usuários do Terminal. É uma biblioteca de auto-atendimento: para retirar os livros, basta assinar uma lista colocando nome e a data. Não há prazo de devolução, nem qualquer tipo de fiscalização. “O importante é fazer o livro circular, fazer com que as pessoas entrem em contato com a literatura. Nós preferimos não colocar um bibliotecário cuidando porque acreditamos que poderia inibir as pessoas. Muitos não se sentem dignos de pegar um livro emprestado”, conta Ana Cláudia.
O terceiro beneficiado com a campanha “Doe possibilidades. Doe um livro”, Wagner de Souza, aguardava ansioso do lado de fora de sua casa, junto com o primo Jéferson, 12 anos, e Kelly, de 5. Ele conta que a idéia de fazer a biblioteca surgiu porque a comunidade da Barra da Lagoa não conta com nenhum tipo de área de lazer. Antes a biblioteca funcionava do lado de fora de sua casa. “Mas era ruim, chovia, molhava tudo. Dai tinha que pegar o ferro e passar”, explica o garoto. Hoje, a Biblioteca Pública da Barra da Lagoa funciona durante o dia no bar de seu pai e, segundo Wagner, é freqüentada principalmente por crianças. A menina Kelly, de 5 anos, ainda não sabe ler, mas garante que gosta dos livros: “Eu adoro ver os Dálmatas e a Cinderela também”, conta.