O senador Tião Viana (PT) emprestou um celular do Senado, sem limite de gastos, à sua filha, que viajou para o México. Não disse que pagará.
A onda de denúncias que atropela o Senado atingiu ontem também o senador Tião Viana (PT-AC), que disputou, e perdeu para José Sarney (PMDB-AP), o comando da instituição prometendo recuperar a imagem do Legislativo. Em meio à campanha, o petista emprestou um dos celulares que a Casa põe a seu dispor – sem limite de gasto e pago com dinheiro público – para a sua filha mais velha levar numa viagem de 15 dias ao México, em janeiro. Procurado ontem pelo GLOBO, Viana não sabia, até a noite, o valor da conta, embora tenha solicitado à diretoria-geral cópia da fatura. O senador então prometeu arcar com qualquer gasto extra registrado no aparelho.
Nos bastidores do Senado, chegou-se a especular que os gastos de celular de “um determinado senador” com celular seriam suficientes para comprar um carro.
– Era a primeira vez que minha filha fazia uma viagem sozinha, por isso lhe emprestei o celular, para que eu pudesse localizá-la. Ela assumiu o compromisso de não fazer nenhuma ligação. Mas a responsabilidade é minha, e estou disposto a pagar qualquer gasto extra que tenha sido cobrado do Senado, seja de R$1 ou de R$50 mil – justificou o senador.
Segundo Viana, durante os dois anos que foi 1º vice-presidente do Senado teve dois celulares à sua disposição, como os demais membros da Mesa Diretora. O emprestado para sua filha foi o da 1ª vice-presidência, devolvido à Casa no início de fevereiro, com a eleição da nova Mesa. Nenhum dos aparelhos que estavam à disposição do petista tem limite de gasto.
– Não quero que paire qualquer dúvida sobre a minha conduta ética. Se eu tivesse um telefone pessoal, teria dado para minha filha, mas só tinha esse profissional e, como pai, fiquei preocupado de ficar sem contato com ela. Mas assumo a inteira responsabilidade sobre o que fiz.
Ataques velados a Sarney – Ao se defender, Viana deixou clara sua suspeita de que o vazamento sobre esses gastos poderia ter partido do gabinete da presidência da Casa.
– Se querem me intimidar com isso, quero deixar claro que, pela minha filha, respondo eu. Felizmente, ela não tem sobre a mesa R$2 milhões e nem tem a Polícia Federal à sua volta – disparou, numa referência ao montante descoberto pela PF na sede da empresa Lunus, da senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) e de seu marido, quando ela se lançou pré-candidata à Presidência da República, em 2002.
Antes de ser abordado pelo GLOBO para explicar os gastos de seu celular, Viana fora à tribuna para rebater insinuações de que ele e o PT poderiam estar por trás da onda de denúncias contra o Senado, o que chegou a ser classificado por aliados de Sarney como um novo turno da eleição para a presidência da Casa:
– Gostaria que as pessoas que fazem esse tipo de insinuação mostrassem a cara. Se realmente eu tivesse conhecimento de todas essas denúncias, eu as teria feito antes da eleição, e não depois que perdi a disputa.
Na véspera, o 1º secretário do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI), afirmara que estranhava o “silêncio conivente” que prevaleceu na Casa até a eleição de Sarney, e atribuiu a atual onda de denúncias a um rescaldo da disputa pelo comando da Casa.
Segundo a Secretaria de Comunicação do Senado, todos os senadores têm direito a um celular sem limite de gasto. Nos aparelhos residenciais, o teto foi fixado em R$500. Não foi informado, porém, quanto a Casa gastou no último ano só com os celulares. Além dos 81 senadores, pelo menos 122 servidores têm celulares pagos pela instituição, o que consome anualmente aproximadamente R$457 mil. Sarney determinou ontem a redução de R$350 para R$300 no teto de gastos com celular dos servidores.