Entre as mil escolas com piores notas no Enem, 965 são estaduais
O fracasso das redes públicas estaduais emerge dos resultados do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): das mil escolas com piores notas no último exame, 965 são estaduais. Já entre as mil melhores, 36 são estaduais – apenas 3,6%, embora os colégios estaduais concentrem 85% dos estudantes de nível médio. O MEC quer usar o Enem, num novo modelo, como substituto do vestibular. O setor privado domina a lista do Enem, com 905 entre os mil estabelecimentos com notas mais altas. Foram avaliadas 20 mil escolas. Entre os cem melhores colégios do Brasil, 29 são do Rio de Janeiro, inclusive o primeiro da lista, o bicampeão Colégio de São Bentod+ 23 são de Minas Gerais e 20 de São Paulo. Doze estados não têm escolas entre as cem primeiras do ranking.
As notas do Enem por escola estão disponíveis, a partir de hoje, na página do Ministério da Educação (MEC) na internet (mediasenem.mec.gov.br). Elas retratam a crise nas redes estaduais de ensino, justamente a instância responsável pelo ensino médio. Isso tudo acontece no momento em que o MEC propõe a substituição dos vestibulares por um novo Enem.
No ano passado, fizeram o exame 2,9 milhões de candidatos, sendo 1,1 milhão de jovens que estavam no último ano do ensino médio. Eles frequentavam estabelecimentos de ensino regular, profissionalizante ou de educação de jovens e adultos, a chamada EJA (antigo supletivo).
Problemas também nas particulares
O Enem é voluntário e avaliou alunos de 20.174 escolas públicas e privadas (só entram no ranking escolas em que pelo menos dez alunos fizeram a prova). Dos mil colégios com piores notas, incluindo os de EJA, 993 são públicos (965 estaduais e 28 municipais) e sete particulares.
A situação da rede pública estadual fica ainda pior quando se comparam apenas os resultados de escolas regulares, isto é, sem considerar os estabelecimentos de EJA. Dos mil colégios com notas mais baixas, 996 são públicos (967 estaduais e 29 municipais) e apenas quatro particulares.
No ano passado, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pelo exame, já havia divulgado as notas individuais da prova objetiva e da redação. Entre os concluintes, a média foi de 49,57 pontos, na escala até 100.
Das 16.696 escolas estaduais com turmas regulares, profissionalizantes ou de EJA, 84% (14.098) ficaram abaixo da média nacional. Essa estatística contém casos de dupla contagem, uma vez que considera separadamente as notas dos supletivos e das turmas regulares das mesmas escolas. Segundo o Inep, foram avaliados alunos de 15.044 escolas estaduais.
Ainda que liderem o ranking, nem tudo é boa notícia para os estabelecimentos privados. Longe disso. De 4.475 escolas particulares de ensino regular e profissional, 60,8% (2.724) ficaram abaixo da média do setor privado, de 60,73 pontos. Entre as mil maiores notas, 58 são de escolas federais. Uma é municipal.
O presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, diz que o fraco desempenho das escolas estaduais não é surpresa. Ele admitiu que as disparidades entre as redes de ensino não serão automaticamente alteradas pelo novo formato do teste, que será aplicado em 3 e 4 de outubro:
– É provável que permaneçam. Não é mudando a avaliação que se mudam os resultados, porque eles são estruturais. Dependem muito da escola, mas principalmente do perfil do aluno a que a escola serve – diz Reynaldo.
Para o presidente do Inep, a divulgação das notas do Enem por escola serve para orientar alunos e suas famílias na escolha dos estabelecimentos de ensino. Reynaldo considera inapropriado comparar colégios que atendem grupos socioeconômicos distintos, isto é, escolas públicas e privadas:
– O perfil do aluno na escola pública é muito diferente do da escola particular. A comparação correta é com escolas similares.
Um estudo do Inep comparou o desempenho no Enem 2008 de estudantes das redes públicas e privadas. De um lado, foram calculadas as médias de todos os 191 mil alunos de escolas particulares que participaram do exame. Do outro, foram selecionadas as 191 mil notas mais altas do total de 922 mil estudantes de escolas públicas. Os alunos da rede privada tiveram desempenho ligeiramente maior: 63,04 a 62,53. No teste objetivo, os estudantes das particulares saíram-se melhor (60,73 a 54,01)d+ na redação ocorreu o inverso (71,05 a 65,35 a favor das públicas).
Bahia tem 11 entre as piores
“Nem todos os professores têm formação adequada”
A Bahia tem 11 entre as 50 piores escolas do país na lista do Enem de 2008. Os piores resultados do exame no estado foram registrados no município de Tucano (a 277 quilômetros de Salvador), pelo Colégio Estadual Heráclides Martins de Andrade, que teve a média 30
no segmento Educação de Jovens e Adultos (EJA). São pessoas com idade entre 18 e 45 anos, que estudam à noite e trabalham durante o dia.
A escola, que tem 600 alunos, obteve a 12ª pior nota no país. O fato de os estudantes trabalharem e faltarem frequentemente foi apontado pelo vice-diretor, Ademir Oliveira, como causa determinante para o mau desempenho, além da falta de investimento dos governos. Ele também cita a deficiência de alguns professores.
– Nem todos os professores têm formação adequada. É difícil encontrar professores em algumas disciplinas – diz o vice-diretor.
Para a diretora do Colégio Estadual Dois de Julho, em Salvador, Margaret Gabian, o contexto social é o principal fator para o baixo rendimento. A escola atingiu 36,5 pontos no Enem. Problemas de tráfico de drogas, violência policial e familiar fazem parte do cotidiano dos alunos.
A coordenadora de Avaliação da Secretaria Estadual de Educação, Diana Picolo, disse que os investimentos em educação vêm aumentando, mas os resultados demoram.