Um dia depois dos confrontos entre PMs, de um lado, e funcionários e estudantes, de outro, que deixaram um saldo de dez feridos em pleno campus do Butantã da USP, cresceu a mobilização contra a reitora Suely Vilela e pela retirada imediata dos policiais das instalações universitárias.
Até a Escola Politécnica, uma espécie de cidadela antigreve da USP, reduto dos alunos mais aplicados -aqueles que os demais chamam de “CDFs” ou até de “direita furiosa”-, tiveram o seu momento de revolta contra a ação da PM. Realizaram assembleia com quórum superior a 250 pessoas, convocada em regime de urgência pelo tradicional Grêmio Politécnico.
Na convocação da assembleia, a diretoria do Grêmio (que fez questão de se dizer contrária “a diversas pautas do movimento liderado pelo DCE”, o Diretório Central dos Estudantes) fez seu relato dos acontecimentos da véspera:
“Foi surpreendente a reação desmedida da PM. Por mais de uma hora, o prédio [da História] passou a ser bombardeado com gás lacrimogêneo, que não distinguia manifestante de estudante em aula, professor em greve do que leciona, funcionário sindicalista de segurança terceirizado. (…) A PM não pediu a carteirinha da USP para os manifestantes. Não perguntou se quem estava lá era a favor ou contra a greve. Apenas viu um inimigo comum, os estudantes.”
“Essa reitora, Suely Vilela, poderia ter dito “Aqui a polícia não entra. Não entra.” Mas ela não fez isso. Ela chamou a polícia”, acusou o professor Francisco Miraglia, do Instituto de Matemática e Estatística.
Reunidos em assembleia ontem no prédio da História e Geografia, cerca de 400 docentes (de um total de 5.434) aprovaram por unanimidade a exigência de renúncia da reitora.
Segundo os professores, Vilela é responsável pelo que chamaram de “ação violenta da PM no campus”, que incluiu o uso de bombas de efeito moral, balas de borracha e cassetetes. Do lado dos manifestantes, registraram-se agressões aos PMs com pedras e xingamentos.
Os professores fizeram sua maior assembleia desde o início do atual movimento reivindicatório. Mas não foi a discussão sobre o piso salarial, ou sobre o projeto de implantação do ensino a distância, ou ainda sobre plano de carreira docente (os temas até então em pauta), que dominou os discursos. Um docente disse: “Tudo isso ficou menor. Agora, a prioridade é enfrentar a opressão, o autoritarismo, a autocracia, a tirania imoral dessa reitora incapaz de conviver com manifestações democráticas”.
A professora Adma Muhana, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, homenageou alunos que, segundo ela, a protegeram enquanto a tropa lançava bombas sobre o prédio da História e Geografia.
Uma dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da USP (que reuniu ontem 500 funcionários em assembleia) ironizou a situação. “A gente devia agradecer à Suely. Tudo o que mais de 50 dias de greve não conseguiram em termos de mobilização, ela criou com esse gesto tresloucado de chamar a polícia e deixá-la agir como se enfrentasse soldados do tráfico.”
Apesar do clima anti-PM e anti-reitora, e da presença de uma barricada montada pelos estudantes em frente ao prédio da História, a Folha apurou que a maioria dos 231 cursos da USP seguiram funcionando normalmente. Uma passeata marcada para a tarde de ontem até a avenida Paulista foi adiada para a próxima terça-feira.
Alunos da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) e professores da Unicamp também decidiram entrar em greve em apoio à retirada da PM da USP. O campus da Unesp em Assis (427 km de SP) decidiu paralisar atividades até terça, quando será realizado ato de repúdio ao confronto.
Procurada pela Folha, Suely Vilela não concedeu entrevista.