O presidente hondurenho, Manuel Zelaya, foi deposto ontem por forças militares no dia em que promovia uma consulta popular para respaldar uma nova Assembleia Constituinte. É o primeiro golpe de Estado no país desde 1981 e o primeiro na América Central desde o fim da Guerra Fria.
A ação, condenada por Brasil, Venezuela e EUA, foi endossada pela maioria do Congresso, entre os quais a bancada do Partido Liberal de Zelaya.
Zelaya foi detido enquanto dormia pouco antes das 6h, dentro da residência oficial. Pelo menos um segurança ficou ferido, segundo relatou à Folha o assessor presidencial Hernán Silva Baltodano.
Em seguida, ainda vestindo pijamas, Zelaya embarcou para a Costa Rica, onde disse ter sido vítima de um “sequestro brutal, sem nenhuma justificativa” e pediu que o presidente americano, Barack Obama, não reconhecesse o “golpe”.
A ação militar teve o respaldo da maioria do Congresso, que, em sessão extraordinária, apresentou uma suposta carta de renúncia de Zelaya com a data do dia 25, quinta-feira. O texto, lido em plenária, afirma que a renúncia tem como objetivo “sanar as feridas do ambiente sociopolítico”.
Em seguida, os deputados presentes (o Legislativo é unicameral) aprovaram por unanimidade a nomeação do presidente da Casa, o também liberal Roberto Micheletti, como mandatário interino.
A maior parte da sessão foi transmitida em cadeia nacional de rádio e TV. Durante a posse, os canais a cabo, tanto nacionais quanto estrangeiros, ficaram fora do ar.
Em sua primeira entrevista, Micheletti decretou toque de recolher por 48 horas, a partir das 21h locais. Ele negou que o Exército tenha dado um golpe. Segundo o presidente aclamado, os militares “cumpriram uma ordem judicial”, já que Zelaya estava “violando as leis”.
Em novas declarações à tarde, Zelaya negou que tenha renunciado e disse que participaria da cúpula dos presidentes da América Central, que começa hoje na Nicarágua.
“É totalmente falso, agora que estou deduzindo que isso não é um golpe militar, mas uma conspiração política apoiada pelo golpe militar, porque já estão querendo manipular de dizer essa terrível falsidade”, disse Zelaya.
A crise hondurenha foi desatada por uma votação que Zelaya pretendia realizar no país para buscar apoio à sua proposta de substituir a atual Constituição. Com o lema de “quarta urna”, Zelaya propunha a realização de um referendo sobre a convocação de uma Constituinte nas eleições de novembro, quando devem ser escolhidos novos presidente, Legislativo e autoridades municipais.
A consulta de ontem foi declarada ilegal pela Justiça e pelo Congresso. Líderes da oposição e do próprio Partido Liberal acusam Zelaya de tentar mudar a Constituição para introduzir a reeleição e se perpetuar no poder. O seu mandato termina em janeiro de 2010.
Zelaya nega que tivesse a intenção de se reeleger imediatamente, mas admitia uma futura candidatura. Pela atual Constituição, um ex-presidente nunca pode se recandidatar.