Eric Hanushek, educador e economista da Universidade de Stanford, defende a demissão de maus professores. Convencido de que a educação é a chave para o desenvolvimento econômico, ele diz que profissionais que não sabem ensinar atrasam a vida de alunos em todos os países. Hanushek, de 66 anos, foi o principal conferencista de seminário sobre ensino e crescimento econômico promovido ontem pela Fundação Itaú Social, em São Paulo.
Membro da Academia Nacional para Educação dos Estados Unidos, ele afirmou que não há formação acadêmica nem diploma que garanta que alguém está apto a ser bom professor:
– Não há relação entre ter mestrado e o aprendizado dos estudantes. Bom professor é aquele cujos alunos aprendem.
Segundo Hanushek, só a prática é capaz de revelar a aptidão para o magistério. Para ele, é imprescindível que o poder público possa demitir quem não dá conta do recado. Ele sugeriu contratos de experiência por cinco anos. Depois, profissionais com fraco desempenho seriam dispensados. Outra saída é a aposentadoria compulsória.
– Soa ruim, mas, em alguns casos, é melhor pagar professores para não estarem na sala de aula, já que estão fazendo mal a nossas crianças.
O vice-diretor da Fundação Getulio Vargas no Rio, Aloísio Pessoa de Araújo, lembrou que a parcela mais pobre dos alunos vem de lares com pouca bagagem cultural, o que exige ainda mais das escolas. Estudo divulgado pelo Ministério da Educação mês passado mostrou que 382 mil dos 1,8 milhão de docentes de ensino básico no país não têm a escolaridade exigida.
Maria Helena Guimarães de Castro, ex-secretária de Educação de São Paulo, disse que é preciso mudar a legislação para permitir a demissão, mas lembrou que a formação universitária costuma ser deficiente no Brasil e que o país investe menos do que deveria em ensino.
– Somos reféns de uma legislação antiga, corporativa, estatizada e difícil de mudar. Os diretores deveriam ter autonomia para formar equipes. Não existe cultura de carreira que valorize o mérito e o desempenho – disse Maria Helena, lamentando que o Judiciário seja refratário a mudanças na exigência legal de que aumentos salariais sejam dados a toda a categoria.
Ao analisar resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), Hanushek concluiu que a substituição de 10% dos piores professores dos EUA elevaria a nota média do país em quase 50 pontos na prova de ciências. No caso brasileiro, segundo ele, a substituição faria o país encostar em Portugal, subindo da 52 posição para a 37 no Pisa.
* O repórter viajou a convite da Fundação Itaú Social