No dia do estudante, o ministro da Educação, Fernando Haddad, disse que hoje um dos grandes problemas do ensino está no nível médio. Para ele, o antigo segundo grau foi relegado, devido ao preconceito de quem achava que passar para o ensino superior era um direito reservado à elite. Nessa visão, aos alunos mais pobres, bastava a alfabetização. Para o ministro, a desigualdade será reduzida quando os estudantes tiverem escolha entre a faculdade e o ensino profissionalizante, “sob pena de relegarmos um contingente expressivo da população a tarefas menores, caso de parcela significativa da juventude hoje”.
Na década de 90, um dos dramas da educação brasileira era o alto índice de crianças fora da escola. O senhor avalia que agora temos um problema de qualidade?
FERNANDO HADDAD: A maior contradição que vivemos nos anos 90 foi que, por um lado, a Constituição de 1988 tornou o ensino fundamental obrigatório. E, seis anos depois, retiramos 30% dos recursos do Ministério da Educação. No fim dos anos 90, o orçamento chegou ao patamar absolutamente medíocre de R$ 20 bilhões. Essa contradição levou ao paradoxo de universalizar, mas ao mesmo tempo diminuir o investimento por aluno, com a consequente queda da qualidade. Isso só começa a se reverter a partir de 2003.
O que podemos esperar para os próximos anos?
HADDAD: Ao estabelecer metas de qualidade, o que é inédito na História, a temática da qualidade veio para ficar. A questão não é garantir a matrícula, é garantir a permanência e o sucesso escolar. A reversão dos indicadores já se faz notar.
Qual o patamar na questão da formação dos professores?
HADDAD: Estamos com 93% dos professores do ensino médio com curso superior. A meta é 100% para 2011. Temos quatro anos para superar esses 7%. E estamos com 68%, no ensino fundamental. A meta é 70%d+ certamente vamos superar.
Por que foi necessário ampliar a oferta da merenda aos estudantes mais velhos?
HADDAD:Muitos alunos do ensino médio são trabalhadores. Estudam à noite e não têm tempo sequer de passar em casa. Sem os nutrientes necessários, ninguém é capaz de acompanhar uma aula.
Por que havia resistência a essa ampliação?
HADDAD: Ouvia dizer que o ensino médio não precisava dos mesmos cuidados que o ensino fundamental obrigatório. Tanto é que o ensino médio, até 2005, não tinha alimentação escolar, transporte e livro didático.
O que explica essa situação do ensino médio?
HADDAD: Cultuamos uma ideologia, que nunca foi propriamente explicitada, de que a uma parcela pequena da sociedade estão destinados os mais altos níveis educacionais, talvez uma pós-graduação de excelência. E, para a massa da população, a alfabetização era mais do que suficiente para operar as máquinas, as enxadas e os tratores. Essa ideologia nunca foi dita no discurso, mas é o que teve vigência no Brasil durante décadas. Acabamos construindo um sistema muito excludente e que promoveu um abismo na sociedade, entre classes, entre camadas sociais, que se expressaram na nossa distribuição de renda.
Dentro dessa visão, qual o papel do ensino técnico?
HADDAD: Essa é uma outra debilidade do nosso sistema educacional. O ensino técnico ficou totalmente apartado do sistema de ensino. Promovemos três alterações importantes. A primeira foi revogar a lei que proibiu a expansão da rede federal de educação profissional. A segunda foi o reenquadramento do sistema S. As escolas do Senac e Senai estão obrigadas a comprometer parcelas significativas de seus recursos com o ensino técnico gratuito. Em terceiro lugar, temos o programa Brasil Profissionalizado, que investe R$ 1 bilhão na reestruturação do ensino médio estadual para integrá-lo à educação profissional .
A médio e longo prazo isso diminuirá a desigualdade?
HADDAD: Não tenho dúvida. Temos que garantir a todos os brasileiros uma de duas perspectivas: educação superior ou educação profissional, sob pena de relegarmos um contingente expressivo da população a tarefas menores, caso de parcela significativa da juventude hoje.