Com a agressividade dos bancos públicos no crédito durante a crise, a diferença entre as taxas de juros dos bancos privados e as das instituições do governo quase triplicou nos empréstimos a empresas.
Em junho, os juros médios nas instituições públicas foram sete pontos percentuais mais baixos que os dos bancos privados nas linhas para pessoas jurídicas. Quando a crise chegou ao Brasil, em outubro de 2008, a diferença entre as instituições era de 2,4 pontos.
Considerando o crédito tanto para as pessoas físicas quanto para as jurídicas, o descompasso foi de 14,1 pontos percentuais em junho. Em outubro, a diferença estava em 9,8 pontos.
A conclusão integra estudo da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) baseado em dados do Banco Central, que compara as taxas do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal com as dos cinco principais bancos privados do país, segundo a participação nas operações de crédito e no arrendamento mercantil.
Segundo o estudo, entre outubro de 2008 e junho deste ano, os bancos públicos reduziram seus juros médios anuais para empresas e pessoas físicas em 8,5 pontos percentuais (de 37,5% para 29%). Os privados cortaram as taxas em 4,2 pontos (de 47,3% para 43,1%).
A diferença nas taxas de juros em linhas destinadas exclusivamente a pessoas físicas não foi pesquisada pela entidade nesse levantamento.
Pressão sem efetividade
Segundo a Fiesp, a pressão do governo para elevar a competitividade entre os bancos não foi efetiva para reduzir juros e “spreads” nas instituições privadas. “Spread” é a diferença entre o que as instituições pagam para captar recursos e o que cobram dos clientes.
Paulo Skaf, presidente da entidade, afirma que os bancos privados não acompanharam o movimento de redução de juros iniciado pelas instituições do governo, mas argumenta que os bancos privados serão forçados a rever as suas políticas de crédito em razão da diferença acentuada entre as taxas.
Segundo ele, pequenos e médios empresários ligados à Fiesp começam a deixar os bancos privados e a migrar para instituições do governo. “Aumentou, sim, o interesse por bancos oficiais”, afirma.
De acordo com o estudo, se tivessem pedido os recursos só nas instituições privadas, todas as empresas que tomaram empréstimos no país de outubro a junho teriam pago, juntas, R$ 7,2 bilhões a mais em despesas com juros do que se tivessem tomado emprestado só do Banco do Brasil ou da Caixa Econômica Federal.
Diferença de perfil
O economista João Augusto Salles, da consultoria Lopes Filho, observa que a carteira de crédito dos bancos públicos e a dos privados têm características distintas, o que permite que as instituições do governo tenham taxas mais baixas.
Salles diz que a expressiva participação das linhas de crédito consignado (em que as parcelas são descontadas na folha de pagamento do cliente) na carteira dos bancos públicos diminui o risco dos empréstimos. E isso contribui para que, na média, as taxas nessas instituições sejam menores.
Luís Miguel Santacreu, da consultoria Austin Rating, acrescenta que o custo de captação dos bancos públicos é menor, o que facilita a redução dos juros. “Na prática, bancos públicos já poderiam ter juros menores há um bom tempo.”