Forças de segurança cercaram ontem a Embaixada do Brasil em Honduras, onde o presidente deposto Manuel Zelaya está refugiado desde anteontem, após entrarem em confronto com partidários de Zelaya, que haviam se aglomerado em frente à representação na véspera para comemorar o regresso do mandatário.
Utilizando bombas de gás lacrimogêneo, soldados e policias obrigaram cerca de 4.000 manifestantes pró-Zelaya a deixar os arredores da representação do Brasil em Tegucigalpa e ocuparam prédios contíguos, enquanto helicópteros sobrevoavam o local. Manifestantes reagiram atirando pedras, e ao menos 20 pessoas ficaram feridas.
Durante a madrugada, o governo golpista cortara água, luz e telefone da casa de dois andares que abriga a representação, deixando as estimadas 303 pessoas presentes -depois reduzidas a 70- na dependência de um gerador de energia a diesel.
Ao menos duas bombas de gás lacrimogêneo foram jogadas contra a embaixada brasileira durante a dispersão, mas não houve relatos de feridos.
Em clima de tensão, durante o dia de ontem forças de segurança patrulharam ruas de Tegucigalpa para garantir o cumprimento do toque de recolher decretado pelo governo golpista depois da confirmação da volta do deposto, estendido ao menos até hoje.
Segundo a polícia, cerca de 150 pessoas foram presas por desrespeito ao toque de recolher e por participação em distúrbios -que incluíram ataque a veículos das forças de segurança- e levados a um estádio de beisebol. Foram fechados também os quatro aeroportos internacionais hondurenhos e postos de controle na fronteira.
A emissora pró-Zelaya Canal 36 teve a energia elétrica cortada e não realizava transmissões desde a noite de segunda. Para o governo golpista, a imprensa realiza “terrorismo midiático”.
O presidente deposto, que adotou o bordão “pátria, restituição ou morte”, disse que o cerco à representação permitia “antever atos piores de agressão e violência, inclusive a invasão da Embaixada do Brasil”.
“Sabemos que estamos em perigo. [Mas] estamos dispostos a arriscar tudo, a nos sacrificar”, disse Zelaya, que convocou partidários a Tegucigalpa.
O líder golpista, Roberto Micheletti, rejeitou, porém, uma invasão: “Digo publicamente ao presidente Lula, respeitaremos sua sede, porque é terra do Brasil, e nós a respeitaremos”.
Micheletti elogiou pedido de Lula a Zelaya para que não promova atos que deem argumentos a uma invasão, mas voltou a cobrar de Brasília que conceda asilo ao deposto -o que Zelaya rejeita- ou então o entregue à Justiça hondurenha para a realização do “devido processo”.
O governo Micheletti rejeita a versão de que tenha destituído Zelaya por meio de golpe e acusa o deposto de ter desrespeitado a Constituição do país ao tentar levar a cabo uma consulta para promover referendo junto com a eleição do próximo dia 29 de novembro. Para o governo interino, a medida visava permitir a reeleição de Zelaya.
Em Nova York, a chanceler de Zelaya, Patricia Rodas, disse que “a repressão visa o povo hondurenho” e que, além dos feridos, “já estão por ser confirmadas mortes”, entre as quais a de uma criança que aparentemente morreu devido à fumaça causada por gás lacrimogêneo.
Rodas exortou ainda países a restaurar os embaixadores retirados de Honduras, para apoiar o retorno de Zelaya ao poder.
Mediação
Devido ao retorno unilateral de Zelaya, Micheletti deu ainda por encerrada a mediação da crise realizada pelo presidente da Costa Rica, Óscar Arias.
Já os candidatos ao pleito de novembro ofereceram-se ontem como “interlocutores” entre as partes e exortaram Micheletti e Zelaya ao diálogo. O candidato Porfirio Lobo, direitista que havia respaldado o golpe, ameaçou retirar o apoio se o líder golpista não dialogar.