Plano de saúde aplica reajuste antes de nova lei

A crise financeira mundial piorou vários planos e seguros de saúde oferecidos pelas empresas a seus funcionários. Forçados a cortar custos devido à restrição nos negócios, os empresários não só endureceram as negociações com as operadoras como também fizeram a migração para opções mais baratas. Troca de planos nacionais por regionais, redução de cobertura de serviços e exigência de co-participação do funcionário para planos antes totalmente custeados pela empresa são algumas das alternativas adotadas para reduzir as despesas com o benefício, que representa, em média, 10% da folha de pagamento das grandes empresas. Quando a empresa decide alterar o plano de saúde ou mesmo cancelá-lo, o funcionário fica de mãos atadas, pois o benefício é uma cortesia da empresa. Não há lei que a obrigue a oferecer o plano para seus trabalhadores.

“A situação financeira da empresa que compra plano piorou. E ela, obviamente, tem que cortar custos. E um dos custos que ela passa a olhar é o plano de saúde, que já absorve algo como 10% da folha de pagamento e passou a ser um custo relevante”, ressalta José Cechin, superintendente executivo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (Iess). Como consequência disso, a receita obtida pelas operadoras está menor que no ano passado, segundo Cechin. Isso porque a empresa que vende o plano vê suas receitas estagnadas, mas suas despesas aumentando. “Há, de fato, um cabo de guerra. De um lado, temos a operadora precisando pedir reajuste e, do outro, a empresa contratante teve queda nas suas receitas também, porque exporta menos, porque vende menos e porque teve que demitir. Então, a tensão nessa negociação ficou exacerbada”, observa.

Nem mesmo as operadoras de alto padrão, voltadas para o público classe A e para o segmento empresarial que atende executivos de grandes corporações, passaram ilesas. O impacto foi menor que no segmento de massa, garante Sílvio Corrêa da Fonseca, presidente da Lincx, considerada uma das operadoras “top” do mercado. Alguns ajustes, no entanto, foram inevitáveis. “Algumas empresas pediram uma redução de cobertura e redução dos níveis de reembolso de livre escolha. Mas somos extremamente flexíveis e nenhuma empresa cancelou o contrato”, afirma.

Migração
As empresas se negam a falar sobre o assunto, mas há casos de mudança de planos de saúde nos setores automobilístico, embalagens, energia elétrica, alimentos, eletroeletrônicos, entre outros. “Houve uma adequação, pois as empresas, no início do ano, foram forçadas a cortar custos e despesas. Há migração para planos mais baratos desde o último trimestre de 2008. Algumas também mudaram de segmento de operadora”, afirma Simone Escudêro, diretora de projetos e estudos de mercado da All Consulting.

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) só passou a divulgar dados trimestrais de receita e despesa das operadoras este ano, mas fazendo uma analogia dos números do primeiro semestre de 2009 com o resultado fechado de 2008, percebe-se que, para estar no mesmo patamar do ano passado, as operadoras deveriam ter arrecadado R$ 30,17 bilhões, ou metade dos R$ 60,34 bilhões da receita do ano anterior. No entanto, o volume atingido foi de R$ 28,99 bilhões ou seja, R$ 1,2 bilhão a menos. As despesas, porém, só reduziram R$ 200 milhões. Para pioriar o cenário, a taxa de sinistralidade — que é o indicador de uso do plano — aumentou e a velocidade de crescimento do número de usuários brecou. Enquanto de 2007 para 2008 a carteira de clientes teve incremento de 2,2 milhões de pessoas, no primeiro semestre foi de apenas 370 milhões — três vezes menos.