Só um em cada três professores da Universidade de São Paulo (USP) dará seu voto hoje para eleger o novo reitor da instituição. A representatividade é ainda mais baixa entre alunos (1 em cada 483 estudantes) e funcionários (1 em cada 220).
O primeiro turno das eleições começa às 9 horas e terá cerca de 1.925 eleitores. Eles votarão nas unidades de todo o Estado para formar uma lista com oito nomes. A apuração será feita na reitoria a partir das 20 horas e deve terminar no fim da noite. Qualquer um dos cerca de mil professores titulares pode receber votos, mas oito deles estão em campanha.
No dia 10 de novembro, um colégio eleitoral ainda menor escolhe a lista tríplice, que será enviada ao governador José Serra (PSDB). Tradicionalmente é escolhido o mais votado. O 25º reitor da USP será empossado no fim de novembro, quando termina o mandato de Suely Vilela.
Este ano, no entanto, pode ser o último em que a universidade elege seu gestor com um processo considerado por muitos como ultrapassado e pouco democrático. Os oito candidatos ao cargo prometeram mudanças para as eleições que escolherão seu sucessor, em 2013.
Na escolha do reitor das duas outras universidades estaduais paulistas, Unicamp e Unesp, todos têm direito a voto. O peso dos votos de professores, porém, é três quintos do total, enquanto de alunos e funcionários, um quinto cada um.
“Certamente isso está na origem da crise que a universidade vive neste momento. Nossos melhores professores, melhores técnicos administrativos, maiores cientistas e melhores alunos não têm acesso à participação”, diz o diretor do Instituto de Física de São Carlos, Glaucius Oliva, um dos candidatos.
Nenhum dos oito defende diretamente as eleições paritárias, ou seja, que os votos de todos tenham o mesmo peso.
Para Sylvio Sawaya, diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, isso seria “um sonho de verão”. “É uma ilusão dizer que esse conselho velho, anacrônico, não tem de mandar mais nada. Se fizer isso, no dia seguinte o governo diz: “Não pago mais nada””, afirma o candidato.
O responsável pela Comunicação Social, Wanderley Messias, defende que a USP siga o modelo da Unicamp e da Unesp. Outros candidatos, como João Grandino Rodas, Armando Corbani e Ruy Altafim, se comprometem a debater o assunto, mas não têm proposta definida. Francisco Miraglia quer o fim das listas tríplices. “Os alunos precisam se sentir representados também. Eles são a razão de ser da universidade, a formação é para eles”, diz a pedagoga Sonia Penin, única mulher na disputa.
Do total de eleitores, hoje 165 são alunos (98 de graduação e 67 de pós), 69 são funcionários e cerca de 1.650 professores. Eles foram eleitos ou indicados em suas unidades para fazer parte de órgãos deliberativos da instituição, como comissões e congregações.
O Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) propôs aos funcionários com direito à voto o boicote à eleição. Aníbal Cavali, diretor da entidade, afirma que é muito difícil prever qual será a adesão, pois alguns servidores são mais próximos da administração da universidade e outros, do sindicato.
O Diretório Central dos Estudantes (DCE) também aconselhou aos alunos eleitores o boicote. O DCE pretende organizar um abaixo-assinado e realizar manifestações hoje em várias unidades da USP. As duas entidades querem articular uma grande manifestação no segundo turno, em novembro.