Um dos maiores matemáticos e filósofos brasileiros, de reputação internacional, está trabalhando na UFSC há mais de seis anos.
Professor titular aposentado da USP, Unicamp e catedrático da Universidade Federal do Paraná, Newton da Costa é professor visitante da UFSC, onde tem colaborado com o Grupo de Lógica e Fundamentos da Ciência do Núcleo de Lógica e Epistemologia do Departamento de Filosofia.
Com 80 anos recém-completados, o professor Newton recebeu, em agosto passado, o título de professor emérito da Unicamp, como reconhecimento dos relevantes serviços prestados àquela instituição.
Graduado em Engenharia Civil e ainda detentor de um bacharelado e uma licenciatura em Matemática, todos pela UFPR, o docente ficou reconhecido internacionalmente por suas contribuições no campo dos sistemas lógicos paraconsistentes, que, a grosso modo, contesta princípios da lógica clássica como o da contradição e entende que uma sentença e sua negação podem, ambas, ser verdadeiras.
“Eu adoro o que faço”, comenta o professor Newton para explicar a disposição e a energia que ficam evidentes quando se tem contato pessoal com ele.
Ao Boletim da Apufsc, recebido pelo matemático e filósofo no dia 5 de novembro, ele explicou que se mudou para Florianópolis por razões pessoais e familiares:
– Estou aqui há quase seis anos. Vim para cá não somente porque vários de meus ex-alunos estão lecionando aqui, como os professores Décio Krause e Antonio Coelho, do Departamento de Filosofia, mas também porque meus filhos moravam aqui. Um deles, Newton Costa Jr., é professor no curso de Economia. Em virtude disso e porque em São Paulo estava com problemas de saúde por causa daquela poluição, eu vim para cá.
Como aposentado, o professor Newton não pode ser remunerado pela UFSC, “mas estou como uma espécie de professor visitante com uma bolsa do CNPq”, esclarece. Assim, ele tem colaborado com a universidade, dando cursos, ministrando conferências, orientado estudantes, não somente com o Departamento de Filosofia, mas também com o Departamento de Matemática. “Estou muito feliz. Desde que saí de São Paulo, eu remocei, pelo menos consigo respirar direito”
Para Newton da Costa, a UFSC e a Unicamp são os locais com os quais podem colaborar mais efetivamente, onde se concentram “grupos de discípulos” seus. “São pessoas que trabalharam muito comigo. Os professores Décio Krause e Antonio Coelho fizeram doutorado comigo em São Paulo. Além de outros ex-alunos ou pessoas às quais estou ligado de outros departamentos. Estou muito contente, muito satisfeito e espero que nosso grupo de Lógica e Fundamentos da Ciência (http://www.cfh.ufsc.br/~logica/) possa progredir, se ampliar e a gente possa fazer uma escola aqui”.
Na UFSC, o professor Newton tem ministrado seminários de pesquisa para a pós-graduação, com auxílio dos professores Décio Krause e Antonio Coelho. “Não estou mais envolvido no ensino de graduação. Tenho colaboradores na matemática, pessoas da área da Física e muitos professores estrangeiros que têm vindo à UFSC. Nosso grupo não é só local, mas que têm relações com outros grandes grupos na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Austrália”, ressalta Newton.
Os seminários fazem parte de uma disciplina do Programa de Pós-Graduação em Filosofia, mas também é aberto a todos os interessados. “É um prazer receber quem quer que seja”, diz o professor Newton. “Tecnicamente, é um seminário para ganhar créditos para concluir o pós-graduação. Uma grande parte do trabalho do grupo é orientar teses. Muitos alunos brilhantes já passaram aqui e defenderam suas teses e agora nós estamos pensando em desenvolver um programa de doutorado”, esclarece ele.
SATISFAÇÃO – Krause, do Departamento de Filosofia e coordenador do Grupo de Lógica e Fundamentos da Ciência, ressalta a importância da contribuição de Newton Costa para o pós-graduação:
– É uma satisfação muito grande tê-lo aqui. Ele já tem publicado muito com o nome de nossa universidade e está pondo o nome da UFSC no contexto internacional. Além de ser uma pessoa da qual gostamos muito, cientificamente ele é um fenômeno.
O professor explica que há no departamento “um Núcleo de Epistemologia e Lógica e dentro deste núcleo existem algumas unidades específicas de acordo com os interesses de seus integrantes, como, por exemplo, Filosofia da Linguagem, Metafísica, e, em particular, o nosso grupo, de fundamentos da ciência”.
O grupo é catalogado no diretório de pesquisas do CNPq e conta também com a colaboração de pessoas de outras universidades, do Brasil e do exterior. “Estamos agora com o encontro da Associação de Filosofia e História da Ciência do Cone Sul (AFHIC), em maio, em Canela (RS). Haverá uma sessão de Filosofia e Fundamentos da Física, patrocinada por vários grupos, inclusive, os núcleos das universidades de Bruxelas, Buenos Aires, Cagliari e o nosso grupo da UFSC. Nós já trabalhamos com os argentinos. Vamos acentuar a relação com os italianos. Eu já estive na Itália, em Florença, o professor Newton foi professor visitante lá e em outros lugares”, relata Krause.
O coordenador do grupo destaca ainda que os seminários cumprem duas funções. A primeira é atender os alunos da pós-graduação em Filosofia, com uma disciplina do curso com aulas ministradas por ele. Já as conferências sobre temas mais gerais ou específicos são proferidas pelo professor Newton.
BENÇÃO – O professor Hamilton Medeiros Silveira, do Departamento de Engenharia Elétrica, diz que, como engenheiro, não tem formação filosófica, mas se interessa muito por fundamentos da ciência e a parte fundamental de matemática. “Os professores Newton e Décio são experts nisso. Venho acompanhando esses seminários há alguns anos e são uma maravilha. Cada vez que venho aprendo alguma coisa”, elogia.
Silveira lamenta que “a universidade não participe mais disso. Ter o professor Newton na UFSC é uma benção, pela cultura, pela visão. Ele tem uma visão quase transcendental das coisas técnicas, aquilo que a gente não consegue ver”. O docente destaca que “o professor Newton é o maior matemático brasileiro. Ele tem inúmeros artigos e livros espalhados pelo mundo. O número de citações prova a influência dele. Há uns dois anos, ele tinha 30 mil citações de trabalhos deles que inspiraram trabalhos de outras pessoas. Poucos brasileiros conseguiram isso”.
PRAZER – Perguntado sobre a receita para se chegar aos 80 anos com tanto vigor, produzindo e trabalhando com satisfação e alegria, Newton da Costa sorri e tenta explicar:
– Eu adoro o que faço. Costumo dizer que nunca trabalhei na minha vida, apesar de lecionar desde os 14 anos, quando já fazia um dinheirinho dando aulas. Sempre foi um prazer. Venho aqui e me sinto rejuvenescido com as “brigas” com os outros. Gosto de discutir com aluno. Quanto mais jovem melhor. Gosto tanto que se amanhã três pessoas estiverem carpindo a terra e quiserem saber o que é lógica, eu vou lá e converso com eles. É um prazer que tenho. Não posso dar uma receita, mas posso dizer que, no meu caso, uma das coisas que contribui é adorar o que eu faço. Quando faço isso, desapareço. É como seu eu tivesse tomado um elixir de rejuvenescimento. Só essa discussão aqui hoje valeu a pena. Passei mais de três horas aqui discutindo e o tempo voou. Esse é o prazer da minha vida.