Especialistas em inovação mostram em livro que falta de qualificação ainda é problema. Juros altos e economia muito instável também expulsam pesquisa e desenvolvimento do setor produtivo do País.
A pesquisa aplicada feita pelas empresas no Brasil, voltada para inovação tecnológica, ainda esbarra em obstáculos estruturais, como falta de mão de obra qualificada. Mas, diferentemente do que se costumava dizer, o problema não é a pequena proporção de doutores em exatas em relação a humanas.
Essa distribuição no Brasil “53% de doutores em ciências e em engenharias e 47% em outras áreas” é semelhante à de países como os EUA. Para os especialistas, o Brasil tem de aumentar a quantidade total de doutores formados em todas as áreas.
“O número de doutores formados no Brasil é expressivo [cerca de 10 mil por ano]. Mas a quantidade de doutores por mil habitantes continua pequena”, diz o economista da Unicamp Sérgio Queiroz. O Brasil tem menos de dois doutores por mil habitantes, contra 15 na Alemanha e 23 na Suíça, por exemplo.
Queiroz faz parte do conjunto de especialistas do livro Inovações tecnológicas no Brasil (Ed. Cultura Acadêmica, 2011), da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma).
Escassez de cérebros – “Há uma deficiência estrutural de pessoal formado para pesquisa e para engenharia”, analisa o diretor-científico da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Henrique de Brito Cruz. A escassez de mão de obra para a ciência no setor produtivo do Brasil pode levar empresas multinacionais a montar centros de pesquisa em países concorrentes, como China e Índia.
Essa foi uma constatação de Queiroz a partir de um estudo coordenado por ele, com 55 filiais de empresas internacionais. O objetivo foi avaliar o que determina que as filiais no Brasil tenham atividades de pesquisa e desenvolvimento. A falta de mão de obra qualificada apareceu em primeiro lugar na lista de dificuldades citadas pelas empresas, seguida pelo alto custo para se fazer pesquisa no Brasil.
Ambiente hostil – Para Cruz, da Fapesp, o setor privado também enfrenta um ambiente “historicamente hostil” para pesquisa, com juros altos e instabilidade. Exemplo disso, diz Fernando Galembeck, da Unicamp, é o que aconteceu com o setor de microeletrônica. Em meados de 1980, o País tinha uma indústria próspera de informática. “Hoje, a produção de materiais e dispositivos para essa indústria tornou-se irrelevante.”
Para ele, o País tem pesquisas inovadoras no setor privado, como na área agrícola. A indústria de papel ganhou destaque devido a inovações na produção de eucalipto. Mas os problemas estruturais persistem. “O Estado onera a pesquisa privada e produz ações conflitantes.”