Governo prepara reposição

Estado aposta no esvaziamento do movimento e projeta volta de 80% às aulas. Reunião discute recuperação dos dias paradosMesmo sem a greve acabar, o governo aposta na volta dos professores às salas de aula e discute, hoje, a reposição dos dias parados, numa reunião em Lages, com a participação do governador Raimundo Colombode, gerentes de Educação, diretores de escolas e técnicos da Secretaria da Educação (SED).

Ogoverno afirma que haverá enfraquecimento do movimento, já que a maioria – 17 de 30 – das assembleias regionais votou pelo fim da paralisação, sendo contrariada, quarta-feira, pela assembleia estadual, que optou pela continuidade. Ontem, o governo afirmou que 80% dos professores retornaram ao trabalho.

– Muitas escolas estão com as atividades normais e, onde faltar professor, vamos contratar ACTs (Admitidos em Caráter Temporário) para manter o ano letivo e conseguir cumprir nossa meta – afirmou Colombo.

A diretora de recursos humanos da SED, Elizete Mello, garante que o Estado é amparado pelo artigo 37 da Constituição Federal, que permite contratação de funcionários em caráter excepcional. Sobre a falta de professores da área de ciências exatas, como matemática e química, ela disse que poderá abrir uma chamada pública se necessário.

Segundo o secretário da Educação, Marco Tebaldi, que também vai à reunião, se os professores voltarem até a próxima segunda-feira, é possível organizar aulas até 16 de dezembro. Senão, não está descartado que as aulas avancem até o próximo ano. Não deve haver aulas aos sábados, porque isso não teria dado certo em reposições anteriores.

Dados do sindicato só na próxima semana

O Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinte) disse não ter os números da adesão à greve. Na segunda-feira, assembleias regionais farão este levantamento. Com os dados, o comando de greve reúne-se na terça-feira, para organizar futuras atividades. Mesmo com a disposição do governo de não negociar mais, o Sinte encaminhou ontem um ofício ao governador pedindo nova audiência.

Sobre o retorno de professores à sala de aula, a coordenadora do Sinte, Alvete Bedin, afirmou que a decisão da assembleia estadual de continuar a greve foi encaminhada às regionais.

– Fazemos um apelo para que a categoria permaneça unida – ressaltou Alvete, que explicou que cada professor tem autonomia para voltar às atividades quando quiser.

Projeto chega à Assembleia

O projeto de lei complementar (PLC) que altera os salários dos professores de acordo com a proposta apresentada pelo governo no último domingo chegou ontem à Assembleia Legislativa. Mas só será votado se mais da metade dos professores em greve retornar às salas de aula.

Se isso não acontecer, não haverá votação antes do recesso das atividades, marcado para 15 de julho. Com isso, o próximo salário dos docentes teria os mesmos valores de antes do início da greve, em 18 de maio.

A decisão de impor condições para aprovar o projeto de lei foi tomada, ontem, pelos líderes de todos os partidos e o presidente da casa, deputado Gelson Merisio.

– Sem consenso, não adianta votar, e os salários terão os valores antigos – explicou Merisio.

Justiça manda rodar folha

O Estado precisa rodar, até hoje, uma folha suplementar repondo os descontos pelos dias parados dos grevistas e pagar os professores até segunda-feira. Se desobedecer aos prazos, será multado em R$ 100 mil por dia. A ordem, do juiz Hélio do Valle Pereira, saiu após o Sinte pedir o cumprimento da decisão judicial.

O governo recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra a devolução dos descontos. Caso seja negado, não se sabe como serão rodados os salários, já que a medida provisória que alterava a remuneração – e sobre a qual foram feitos os descontos – foi rejeitada pela Assembleia Legislativa.

Divisão e dúvidas no Oeste

Cerca de 300 professores se reuniram em Chapecó para decidir sobre a continuação da greve, e a maioria resolveu acatar a decisão da assembleia estadual pela paralisação. Ainda assim, alguns professores já voltaram para a sala de aula e outros reclamam que a greve perdeu seu foco.

– Tem coisas que saíram de pauta, como concursos e merenda escolar – reclamou um professor, que não quis se identificar, temendo retaliações.

A professora Angelita Staudt também diz estar cansada de promessas.

– É um cansaço psicológico e físico, mas não podemos desistir agora para ano que vem ter que voltar.

A continuidade da paralisação gerou dúvidas em professores e alunos. Leonardo Soares dos Santos, do Colégio Zélia Scharf, procurou a escola para saber quando deve voltar.

– Vamos ficar sem conteúdo, porque não vai dar tempo de ver tudo até o fim do ano – diz o aluno.

Dos 75 professores do colégio de Leonardo, apenas 13 estão trabalhando. Hoje, no Centro de Chapecó, os professores fazem uma manifestação “para mostrar à comunidade que a categoria continua paralisada”. Na segunda-feira, uma nova assembleia discute os passos a serem tomados.

Segundo o coordenador regional de Chapecó do Sinte, Cleber Ceccon, a semana que vem será decisiva para a reposição das aulas.

– Se voltarmos até semana que vem não teremos problemas com as reposições – afirmou Ceccon.

O cansaço dos mais de 50 dias de greve está abalando até o entendimento entre professores. Alguns foram intimidados por decidirem falar à imprensa sem a presença do comando de greve, o que gerou atrito.

Joaçaba suspende a greve

Em assembleia na tarde de ontem, professores dos 13 municípios que compõem a regional de Joaçaba, no Meio-Oeste do Estado, decidiram voltar às salas de aula.

Durante a reunião, 52% dos grevistas votaram a favor da suspensão da greve. Hoje, os cerca de 250 professores que ainda estavam longe das salas devem retomar as atividades.

O primeiro dia após a greve deve servir para discutir a reposição das aulas. Segundo a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinte) de Joaçaba, Lurdes Persch, a decisão não significa o fim da luta.

– Todos os professores continuam em estado de greve, esperando que o Estado cumpra as promessas – diz.

Embora as escolas voltem a funcionar hoje, a expectativa é de que só haja alunos na próxima semana.